quinta-feira, junho 26, 2008

Retrato de escritor

Insolúvel na água quente e na fria;
nas de furar a pedra ou nas langues;
nas águas lavadeiras; até nos alcoois
que dissolvem o desdém mais diamante.
Insolúvel: por muito o dissolvente;
igual, nas gotas de um pranto ao lado,
e nas águas do banho que o submerge,
em beatidude, e de que emerge ingasto.
Solúvel: em toda tinta de escrever,
o mais simples de seus dissolventes;
primeiramente, na da caneta tinteiro
com que ele se escreve dele , sempre
(manuscrito, até em carta se abranda,
em pedra-sabão, seu diamante primo);
Solúvel, mais: na da fita da máquina
onde mais tarde ele se passa a limpo
o que ele se escreveu da dor indonésia
lida no Rio, num telegrama do Egito
(dactiloscrito, já se acaramela muito
seu diamante em pessoa, pré-escrito ).
Solúvel, todo : na tinta, embora sólida,
da rotativa mandando seu auto-escrito
(impresso, e tanto em livro-cisterna
ou jornal-rio, seu diamante é líquido ).
João Cabral de Melo Neto
in. "Educação pela Pedra ".

sexta-feira, junho 20, 2008

Natureza

Verde alvorecer do dia
Alegria burbulhante
contagiante natureza de
amor gigante.
amostra trabalhosa de
engenho e arte delirante.
Amostra grátis de Paraíso Perdido
aqui caído.
Regalo divino ao homem decaído
que faz do precioso presente mero agente
intermediário entre sua ambição e presente
predatismo descabido.

Árvores sangrando
lançando
um lamento enquanto desabam.
Clareiras na mata metastase no pulmão verde.
extinção de saberes ainda por conhecer
Densa neblina de restos de vidas cegan o alvorecer
A idosa árvore testemunha o último massacre
não haverá mais o que lamentar não mais existirá
Riquezas e progresso ocultos sob o pó das matas.
Gafanhotos saltam de florestas em florestas devorando madeira
abrindo clarões aleijando a biodiversidade mas plantando cidades.
Armazenando capital e extendendo o lençol da monocultura.
Alimentando o gado que alimenta o mundo e trazem divisas
Por mais que dividam opiniões tem lá suas imediatas razões.
O bolso exige.
A visão de quem só vê uma árvore de cada vez não a floresta inteira.
Não haverá mais nada desta maneira.
Crescimento insustentável.
Wilson Roberto Nogueira

quinta-feira, junho 19, 2008

Campo de refugiados palestinos em Shatila


Photo by : Leonardo Schiocchet

sexta-feira, junho 13, 2008

Um jardim de baionetas
raízes de metal do fúzil
expressão da guerra
serenas sobre os corpos
dos guerreiros que repousam
à sombra das copas de seus capacetes.
as baionetas cantaram tanto e tão alto
que calaram num silêncio de mármore
baionetas que semearam bravas sementes
brotaram estéreis interesses
nos protegidos prateados palácios da paz.
voam vozes no vasto silêncio.
Wilson Roberto Nogueira
Hi Sh'ie
é meio sem jeito
mas mesmo sem saber direito
é um embaixador sem defeito.
Pândego panda
prêto e branco
olhos imensos de esperança
aguarda sem pressa sua feliz herança
Paz e prosperidade !
saúde e Felicidade !
Campai !!!
Wilson Roberto Nogueira
O som da chuva lá fora limpa a janela
o calor dentro da casa faz suar a janela
o suor da alma aquece o sal das lágrimas.
Wilson Roberto Nogueira
O som alto da tele visão
conversa com o silêncio
ricocheteando na pele
das paredes surdas
enquanto correntes
pesam sobre a cama
que morde
faminta
mais uns nacos de vida.
Wilson Roberto Nogueira

segunda-feira, junho 09, 2008

Olho o avêsso de ti
tim tim
copos quebrados
brilham nos olhos seus.
Wilson Roberto Nogueira
O sol nasce no sorriso
da cerejeira em flor.
Wilson Roberto Nogueira
Calor fora da estação
perdera o trem
aprumou-se a flor
sorrindo ao sol.
Wilson Roberto Nogueira
Ipês apressados
deixam Toledo
roxa.
Wilson Roberto Nogueira