sábado, julho 31, 2010

Nasci tragado pela vida

desde então venho deixando
cair minhas cinzas
de efêmera trilha
que o tempo transubstanciará
em esquecimento.

Wilson Roberto Nogueira
As cicatrizes são caminhos


onde as perdas se encontram

felizes.

fatos na foto tropeçam

no argumento da face

cicatriz

a verdade escapa

por um triz.

A imagem pede sangue

o riacho seco

sorriso de lamina na face.

A foto retalha a festa do pranto

na lúgubre mortalha do espanto.



Wilson Roberto Nogueira
Atravessa a calçada e, num passo apressado, a preço do tempo ,sufoca no garrote invisível da angústia. Corre e quase tropeça , esvai-se a vontade louca num banho de água gelada e suja, some a consciência e urra no tiro da noite. Silencio. Paz. Mais um morto. Nada. Mais uma bala perdida. de onde ,ninguém sabe e alguém quer saber. A vida segue.Antes ele do que eu!Será?

Wilson Roberto Nogueira
As faces que ela pinta
olham para ela


que desertou de si mesma
alma deserta

na pele de poeta
tapete de mãos rasgadas

calos de dores antigas

Olhem para ela

antes que Eva
em vapor se adorne.



Wilson Roberto Nogueira

Nocturnal hour 1995

Uma só da sua sombra sopra contornos de calamidades em calamares de sonhos .


Seus calores em amores calam em holocausto de tremores todas as ilusões.

Projeção de chama na parede

miragem de fogo

posto que é gelo.



Wilson Roberto Nogueira
A vida dera-lhe tantos socos , que o tapete de pele de sua face mal servia de testemunha à sua história.
As ruínas não passavam de um monturo onde pele e dentesdesertavam da palidez; a própria face fugia de si ,afogava-se nos poços negros de olhos sem espelho.
 O sentimento não mais escorria, escorria apenas a baba bovina no hálito de catacumba . Não mais a provar o néctar na seda úmida de uns lábios de mulher
A carne já não lhe dizia, silenciara a espera dos passos balbuciantes da companheira; deitado e a incaroavel por mais uma noite lhe negara a visita.

Wilson Roberto Nogueira

Festa da Conceição da Praia.1947

sexta-feira, julho 30, 2010

moedas pesam no bolso;

consciência leve
soprada pelo vento.


Wilson Roberto Nogueira
Os seus muros despregavam-se sobre o lago

que debruçava um último olhar
àquela pele jovem do luar.
A lua ainda acreditava no sonho prateado das marés!
Um lago que sufocava o que sabia da poesia das marés?



Wilson Roberto Nogueira
A risada dela rodava no desespero de Ser feliz.


A noite não caía, desabava chumbo grosso
engessava a vontade de sair
Cobria de sorrisos ocultos
o dourado dos dias
uma lembrança agonia
a cada rede a noite vinha
ébria de meias deslembranças
uma noite leitosa que se anuncia
no beco,na viela ou na guria
ou no sorriso dela ao sair do bordel
O céu era um lençol rasgado de um quarto sujo
ali ao lado
no lodo grudado na alma do sorriso de ouro
nas quebradas
a costela partida num adeus .



Wilson Roberto Nogueira

Urubu

pairou quieto sobre a breve vida e bebeu com os olhos de anoitecer

aquela breve chama fenecer
pousou e esperou respeitando o tempo daquela tenra alma se despedir da casca.
Agora sim ,cuidadoso ;chegara o momento de limpar.
Aguarda uma esperança ,que um pouco daquela alma criança,
fique perto do seu coração a rir e leve de si ,peso de sua função.

Wilson Roberto Nogueira

quinta-feira, julho 29, 2010

A paz sonha existir, mas é apenas a gota nankin na pluma de um poeta anônimo

ou o sonho da guerra .



Wilson Roberto Nogueira

Muro de seda

O olhar perscruta a intimidade da fechadura e devassa uma imagem.
Uma miragem de um mirar míope.Percorre o não ser contido na idéia,
jogando luz opaca na silhueta sílfede da mentira.Volta para o quarto e
se masturba com a imagem. Sua esposa retorna para o quarto e a cama,
fica plena de vazio.

Wilson Roberto Nogueira
A jovem mãe teve a vida apostrofada ao dar a luz a quem só queria ficar na escuridão;aquela larvinha preferia o conforto das quentes trevas às frias
e barulhentas claridades.Lalá instintivamente fervilhava em vomitar em alguma
privada pública aquele trocinho ,que afugentaria seu ganha pão.Aquela larva voraz a agasalhou de sangue e a cobriu de um frio gostoso que expulsou suas terríveis dores.
Finalmente apaziguada, dormia na sordidez tranquila ,ao lado de sua cria não nascida.


Na companhia dos corvos só as cinzas choraram
lágrimas secas.
O vento sopra pro vazio sombras de não existências.



Wilson Roberto Nogueira
Postar uma lembrança

carta que jamais alcança
do sonho os recifes
que o passado naufragou;
o mar limpa nossos cadáveres.



Wilson Roberto Nogueira
Sentado aguardava no silêncio.


Caiu um espelho.
Levantou e olhou para si.
Lenço aos olhos procuram lágrimas.
secas covas de negras miradas.

saiu o velho no silêncio.


Wilson Roberto Nogueira
Zacarias Zagaia arremessava pedras quando falava,
até quebrar a vidraça da sua casa.A patroa catou os cacos
e fez um mosaico de sua relação.Zacarias perdeu a casa e caiu
na gandaia.



Wilson Roberto Nogueira

A Infância de Ivã

Cumpre o rito

sumário
a soma de uma vida
um grito ordinário
numa cópia rasgada
de Munch.

Wilson Roberto Nogueira
chuva seca antes de cair

molha de tortura a esperança;
quadro trincado no chão
jarra de poeira e teia sobre a mesa.
criança arranha o chão procurando o que comer
os intestinos a devoram com carinho
devagar o cão caminha e lambe sua última gota de suor seco.
A procissão semeia preces no silêncio estéril.
Enquanto na cama o desespero engendra nova criança.


Wilson Roberto Nogueira

A Nau dos Insensatos

Reverbera o verbo liquida alma da pedra deambulando os caminhos sonhados do lago,
gaguejando borbulhas ,afunda sem dramas nem damas sonhando ,nem dores sentindo ,nem alegrias; pedras sentem o vazio só no sonho das nuvens, pedra disfarce do granizo ,gotejante tecido do vento ,véu do dia em tempestade dorme a revolta do lago.Lá no fundo,lá no fundo no fundo ainda resta uma esperança de pescaria.
A pedra afunda sem perceber,sem querer,sem amar,sem sofrer.Só o Sol por vir sonha Poder fantasma falar ,dar a pedra o calor de sentir.
Sou pedralápide apócrifa num lago deserto.


Wilson Roberto Nogueira

quarta-feira, julho 28, 2010

Como era verde o meu val canta o bardo orvalho


com olhos de nuvem.O vale que é fuligem na noite eterna

nas crateras das minas até as copas das chaminés

espirando as vísceras das eras nas florestas de pedras

e pó

dos pulmões das crianças-flores tísicas germinando nas campas.


Vasto céu nú de estrelas,imenso mar sem ilhas.


Wilson Roberto Nogueira

Mosca flâneur

As moscas dançam, saboreando doces podres; os pombos jogam futebol com migalhas de pão-de-queijo Toca o realejo da memória do aposentado, que chora ao olhar a luz dos olhos da neta sorrirem ,enquanto as moças transam salvando dores de senhores nas quilhas de naúfraga dama da noite à mariposear suicidios de luz e chamas no cachimbo; cérebros viram cinzas arquivos voando em pó na ventania ,o pó voa na ventania e nada resta daquele livro comido pelas traças, só a fumaça ,a fumaça fantasma bruxuleando na dança do efêmero coito com o vento ,respira seu último vício de vida,vida mesmo através das vidraças partidas, de cacos de dores de fragmentos de olhares de uma môsca consumidora de insumos de dores de múltiplos fedores em cada prato de pranto, restos no pûs dos dias, voa vadia a môsca urbana, urfausta cidadã, dançando no tédio da manhã.



Wilson Roberto Nogueira
Zumbem as mensageiras da morte,levando consigo a mortalha do silêncio.


Noite sem sonhos sono eterno.A luz da lua lamacenta a escorrer grudenta

como um relógio de Gaudí.Os números das horas escaparam para o longinquo nada


oceano negro mastigando a lâmina vítrea da opaca vida que deserta na explosão borbulhante de lembranças.

Vida



Zumbem as mensageiras da morte,levando consigo a mortalha do silêncio.




Noite sem sonhos sono eterno.A luz da lua lamacenta a escorrer grudenta



como um relógio de Gaudí.Os números das horas escaparam para o longinquo nada



oceano negro mastigando a lâmina vítrea da opaca Vida .Bóia distante num mar de condenados



sem forças para perseguí-la a nado deixa-se levar



 lavando-se enfim.



Wilson Roberto Nogueira


Araucária-100807

segunda-feira, julho 26, 2010

Um oceano insone de imenso vazio,o grão de pó flutua em sua epiderme de liquida danação.
O coração pesa em desalento com a opressão do mar amargo engolidor de sóis e estrelas.
Traduzindo na língua ácida encarquilhadas maldições,levantando vagas de fantasmas;
de ensurdecedoras correntes de silêncio e angústias.Surdos pedidos de socorro de corações náufragos; corações de condenadas miradas sem luz, sem um farol.As anciãs feridas frias emergindo do sentimento movediço são a única e inesperada jangada ,aleijada de esperança .Néspera da fruta flutuando do nada,
são a única e inesperada jangada aleijada de esperança néspera da fruta flutuando do nada ; jangada aleijada -Perda da perna da alma,das suas entranhas e da alma mesma ,o seu coração que se imaginara imortal. Envelhece na esperança inesperada ,esperança de pedra,esperança que se recria em ígnea vontade ,mais uma ferida,mas uma jangada desejada.

Wilson Roberto Nogueira
A consciência largou -a na cama, saiu antes de vê-la acordar e sorrir-lhe ou soltar um pum gracioso ;(ela também liberta flatos silenciosos ou não). Caminhou até o banheiro e entrou em contacto consigo próprio ,uma experiência mística lhe invadiu até o supremo...Alívio! Como o gozo na juventude era tão desprovido de dor e esforço!... as guerras arrancaram-lhe as forças ,mas a tempestade ainda acaricia as lembranças ,sua alma ainda não desertara...ainda.




Wilson Roberto Nogueira
O ar respirado doía dor antiga,
a medida em que a noite mordia
a casa em dores gemia.Rangendo
resmungava no calor de suas entranhas
suava fantasmas; à procurar portas para bater
onde o vento não vem visitar
só a voz ao longe na laje gélida do Além
Portas que se afastam corredores que correm
Espelhos a mirar nos olhos outras almas a bailar
Sonhos soluçam pesadelos entre os labirintos do jardim
Ao longe crocitam corvos sob pálidas bétulas
A todos os hospedes zela o prateado dorido olhar da lua
no olho do faminto lobo sob o lençol da tua cama .

Wilson Roberto Nogueira

Sol sem luz


Godofredo guarda em seu quarto jornais."Para pesquisas " diz ; e lá vai ele dando novas camadas às colunas de celulose; tais quais células de seu próprio corpo.Muitas já mortas,alimentam multidões de ácaros e banqueteiam tímidas e famélicas traças.
Tropeça nos próprios pés a procura de um chinelo,que lhe escapara .Desaba na cadeira a qual solta contido gemido.Diante da escrivaninha pálida ,por descuido estende página amarelada de fotos e fartos fatos deformados .Lê os testemunhos do roto espírito da época e solta um arroto enquanto polemiza consigo próprio a impropriedade do estilo e da falta de arte no manuseio da palavra,se insurgia mais contra a forma do que com o conteúdo,já é lugar comum de terra exangue falar sobre: "a sofisticação da técnica mutualizada com a anemia espiritual ".Vociferava enquanto a voz era devorada pelo fogo da falta de fôlego.
Voa uma mariposa negra contra a luz fria da lâmpada,tonta ela tenta se queimar mas não consegue..."Que paixão ! "Liga o rádio para ouvir Wagner e pocotó, pocotó.Pega um copo,desses de molho pronto e,tenta acuar a incauta voadora;caçador experiente,depois de algumas horas ,consegue e a prende no invólucro,depositando-a na escuridão das esquinas.
Volta para o quarto,encontra outro copo ,perdido num canto da escrivaninha; ali ao lado do Paraíso Perdido.Entorna e queima as vísceras.Lá pelas tantas,tonto, resolve sair sondando sonhos a procura de pesadelos e, só encontra mariposas,uma delas fora,imagina ele ,sua esposa posando nua no fundo do copo de seus olhos incendiados.
Parou no meio da rua ,sem notar que estancara;estava a delirar, procurando no caleidoscópio o que aquela figura multifacetada da memória lhe gritava.
Tal qual uma buzina de Scania.E as cores e, as cores.Todas as cores do mundo numa única e infinda planície negra.



Wilson Roberto Nogueira





Cobertores que encobrem fraquezas cobrando franquezas
em fracas carnes quentes,moles e passadas
Passado de glórias que já não ascendem labaredas
em vermelhas faces voltadas para dentro de ventres
estéreis em chamas diante da contundente palidez do fracasso
germinando espinhos em fetos moribundos do Ego sepultando a si
sob os cobertores de décadas de encasulamento matrimonial.


Wilson Roberto Nogueira

Farol negro

A moça olhava no fundo do poço dos olhos do estimado (supliciando aos seus próprios ) e suplicava-lhe para que não deixa-se de sempre estar junto ao seu ser amado; o compadre o qual a estilhaçara a alma."Não o abandone"ela dizia.
Foi atender a alguma carniça esturricada que teimava viver à base de amealhar pedras para sua sepultura.Como era consciencioso...zeloso pela amizade e sob os ditames da jura àquela flor do deserto.Continuou a ser o lastro conquanto o dealler persistia vazando o visco da alma sobre o pó humano que cobria a sarjeta a qual o inundava de asco.
Para se preservar o ar denso que ainda restara em seus alvéolos ,afastara-se,rompendo as correntes do juramento que cortava sua veia.
Quando retornou,não respirou mais nenhum fétido olor em sua memória,o seu olhar abandonara qualquer luz a dar sinal a seus fantasmas.


Wilson Roberto Nogueira
A criança corre.Boca,mãos e pés sujos de terra.olhos prêtos de animal perdido.Corre por sobre poças onde bebe uma cadela despelada .O sol queima mas a pele esturricada não sente o calor que açoita com amor.Cai de joelhos o dia,orando pelos olvidados neste deserto à margem do lixo.
O homem feito bicho à disputar com urubus restos de um gambá ,ou algo parecido agasalhado com o verde fosforecente de frenéticas varejeiras e uma tonta môsca azul que jamais picara alguem de sorte.

Faltara o olho Salgado,olho mágico na porta daquela mansão ao ar livre de verbo e verve.



Wilson Roberto Nogueira
A pomba olha para sí no  olhar do corvo que procura na escuridão do olhar da alva ave o vento para suas asas sujas. Freedom ou só a salvação. Sem áquela sinistra sombra do espantalho que arde na sua imaginação. O peso do pesadêlo é a  Fome em meio ao milharal, tudo tornado biocombustível  .Raios , e eu cá sem minhas tortilhas, sem poder emigrar ,trabalhar .Me salvar.




Que Viva México ...!!


Wilson Roberto Nogueira
Desci da boléia

dessa idéia.



Nada mais embolorado Ser

vagar sentado em si

sofrendo a perder



galvanizando entardeceres



couro imprestável

para outros amanhãs



vida minuto a minuto



cicuta cutucando a puta

com descartáveis explosões

de não-seres sem vergonhas



venais risonhas sombras

brasas ardentes pelos

sonhos de cacos partidos na garganta.



Wilson Roberto Nogueira

Teias empoeiradas

No canto de um sótão o quadro coberto por um pano sujo.Labirinto de vidro onde gerações ; entre opacos espelhos trincados de lembranças ludibriadas pelas pinceladas da memória carregam cores de conveniência do coração ou do fígado,teias de aranha e pó como que a representar fino tecido no qual roedores se cobrem.


Da poeira dos dias se nutriam e em pó se convertiam após abrirem passagem na madeira de um velho baú, aconchegante mansão onde descobriram a mais fina cultura européia: livros; as imagens das fotos sequestradoras da alma do tempo- a memória, a qual voracinada até as entranhas dos novos moradores encontrou enfim ,nos pampas infindáveis do esquecimento sepultura.

Em tal continente ,onde ocultadas por sedas do passado o olho intemporal do quadro testemunhava o calor dos séculos no coração do porão ainda pulsava no sangue daquela casa : os espoucares da rebeldia na madeira que em lento prazer o sol sentia ou nas vilanias de gatos a assassinarem crias,ratos a canibalizarem filhotes na carestia.Assim eram com os Homens que lá habitaram,nas maldições silenciosas das paredes ainda que corressem crianças e se entrelassasem amantes.

Hoje o testemunho mudo de um crime no assassinato de uma época de luz e riqueza,onde os herdeiros de tantos cadáveres deitados pela história.O Sótão , a única parte inteira de tal intestina estória de uma aristocrática mansão da Belle Epoque.O tempo soprava o pó do que restara só a moldura dourada atrás da lámina de cristal os elegantes abantesmas ainda se imaginam a dançar no grande salão na eterna primavera de 1914.
Ela sorria com os olhos

em cada um uma verdade
os cílios descortinavam
ora ocultavam promessas.


Wilson Roberto Nogueira
Quem alimenta a alma

livres animam anima
morbius soletrando
solenes letras trans-fugas
de caixas de Pandora doridas
nada domam a dor de viver
rebobinam almas suando salobras
novos minerais de cadáveres imortais
em salubres sonhos sondando.

Wilson Roberto Nogueira
Pele de pétala dourada beijada pelos lábios do sol
exala olor que grava na lembrança singular dor
Profundo mistério de sereia fantasma
olhos verdes de mar caribenho.
Lâmina fria que queima o coração.
Uma presença de sangue sobre a neve,
como um discreto sorriso da paixão.
Ora é só mais um duelo por uma folha de seda
vagando na voga do vento.Não é tempo pra lamento.
Todo pranto é vão pra folha ou pro vento.
Torpor o casamento morte em vida.
fogo breve a paixão morte de tanta vida.



Wilson Roberto Nogueira
carteiras vazias

não importam
em bolsos furados
as barrigas estando vazias
os sentimentos frustrados.
umas frases vadias vendendo
uma puta idéia

pena o corpinho estar quebrado



Wilson Roberto Nogueira

domingo, julho 25, 2010

Caminhava no pátio da pensão como quem numa Casbah, atento aos meandros do labirinto rumo ao Soukh das almas. Lembrava nas roupas estendidas nos varais em frente aos olhos dos alojamentos-cavernas, onde as sombras repousam, as cores transpirancias da alma vogam voyeur do passado no gueto, onde as vozes adquirem sombras, corpos de cinzas e ossos pilastras, as vozes alimentam a angústia e concedem à felicidade um preço de preciosa jóia como àquela que brilhava nos olhos de Rivka.


Brilho que se perdia na lama do caminho.



Wilson Roberto Nogueira
A bola verde e amarela

corria nos olhos da criança
driblando a fome e a guerra
com as pernas do vento
goleando as sombras.
Até o próximo jogo...

Wilson Roberto Nogueira

Green Violinist

Passara os dias em penumbra ,quando saía, torcia sombras garroteando o pescoço da verdade , sentindo a carne pulsar, ferver até. Sobrou apenas pedaço de barro de um vaso barato quebrado na escrita de uma sombra rasa.




Wilson Roberto Nogueira
A garotinha sentada na areia argilosa da praia ria de um marisco que se apressava a enterrar-se, fugindo para dentro de um minúsculo círculo. A maré crescia e a inundava de uma água quente depois de bater-lhe como se quisesse acordá-la; a pequena se põe de pé a espera da areia da praia que ganha vida e, conivente com a maré a conduz para dentro do Mar, para o fundo, o fundo. Mesmo parada ela quase caíra naquela correria da maré. Ela rira. Até cair num buraco oculto sob as águas escuras. Seus pais, comiam frango frio com farofa e cerveja quente; suas banhas a lagarteavam a gargalhar ao sol.Sol que se recusava a se mostrar caloroso.Aquela praia cinzenta acabou chovendo na lembrança entardecida.

Wilson Roberto Nogueira
Raios de sol cortam o mar


mergulham cristais

lágrimas de pedra pranteiam

prata translúcida dos olhos ateus

de Deus

num só adeus.



Wilson Roberto Nogueira
Segue plantando pastos


de suas letras sementes

alimentando mentes bovinas

no oco da alma destas gentes

ruminando projeções de vôos

galináceos horizontes.



Wilson Roberto Nogueira

sábado, julho 24, 2010

Resposta ao Fantasma Prussiano

O caminho da paz é o armamento de última geração...
a última...

"A Guerra forja o caráter de um povo !"

Se ainda houver na morada de carne e nervos o aço do espírito
 e não só restar a espada servindo de lápide ao guerreiro sem nome.

Wilson Roberto Nogueira
Poesia é o silêncio sangrando no cio


é o osso do ócio

é o grito do silêncio

é a sirene do espírito



em suma

é o sumo do nada

de quem já aprendeu

a nadar nas turbulentas

marés da lua.



Wilson Roberto Nogueira

Crisântemo

Sem temor


beija a tempestade

com amor.

O sol pode até arder

mas não o faz sofrer.

Num vaso faz sombra

sob o túmulo.

Wilson Roberto Nogueira

Bunda

Palavra de origem africana

incandescendo de indecências
exalando essências proibidas
em relvas singulares.

Como dentadas em jugulares espessas
de sanguíneos desejos qual chama
se libertando em ânforas.

Canções de violas e violões,violinos

Bundas das negras, das européias das orientais
sobretudo das brasileiras
as tais brasas empinadas de volúpias
e gingadas formosas

flores
gráceis gazelas que saltam labaredas de desejos
em seus remolejos de inocência sacana de transas secretas.
vozes de cuja linguajem os talhes proclamam

Paraíso de brasílicas delícias
catarinenses, gaúchas, cariocas
e cada uma com seus temperos.

Deus salve ...
a bunda das brasileiras !

Mas só a bunda requebra na mente ciclope
incapaz de degustar vales e enseadas,
montanhas e cumes da privilegiada geografia
brasileira
provar das essências veladas, reveladas e desveladas
nas dores e ungüentos daqueles imensos olhos eneblinados...

Wilson Roberto Nogueira

1997

Arrozal do sonho

Uma vez parado percorro caminhos no silêncio do vazio.
Quando em movimento,estático refém das imagens
barulhentas das paisagens.
Sigo trilhas sem deixar rasas ou profundas pegadas
no caminhar cúmplice da etérea poeira das horas.
Sorvo o silêncio e na solidão

copo transbordante
me afogo no afago das nuvens.

Vapor de vida contida na gota de orvalho
a tarde de sol sepultou a lágrima
mar de sal sob o sol.
Gaivotas cortam o céu que sonha

chuva de verão.

O tempo povoa o vazio preenchendo a existência.



Isso é o tédio ou é o arroz brotando do Saquê?



Wilson Roberto Nogueira
LaNacion.com
Nasceu prematuro.De um acidente de paixão adolecente.Um mêcanico filho de nortistas ousou entrar no recinto íntimo da princesinha estrábica e profunda; profundamente solitária.


Para afastar aquela negra mancha no caminho do vasto dourado horizonte não tardara o PatriArca a pagar e apagar régiamente à vergonha com o insulto da propriedade extorsiva.No silêncio da suposta submissão afrontando o afastamento ; e todo o sangue do sentimento com o veneno da humilhação.Para alimentar de ódio o vento em temporal, para longe levar a possibilidade de retorno.

Não era nada , por que nada sobrara , só a alma da mulher que arrastava os restos de suas vestes em meio a outras almas zumbis; trancafiadas em pesados pesadêlos durante lustros ocultos no pó toda a beleza.(O lustre ? ) Não era de cristais, sempre chamado de vidro até que convencida alma se pertir em fôscos cacos miudos.

Quanto a prole defecada, longe de ser  o "Bebê Johnson s" ariano; restara 'aquilo' : um sagüizinho que nascera faltando com o débito de ter morrido, fatura com a qual lhe será cobrada em cada palavra carinhosa de ácido tão cristalino tal qual a mais pura água.

O esperma inválido conseguira a proeza de criar tal criatura que teimava em abandonar-se no mar do crescimento,amadurecendo entre cactos e hera sob a sombra da esperança, uma nuvem para encobrir o sol de sua existência.

Encontrou uma caverna entre os livros os quais revelaram o centro incandescente de espíritos imortais, que assim como ele,passaram por entre abismos sem jamais ansiarem serem engolidos pela sedutora inexistência das cores que a queda eterna patrocina.

Mas o miquinho crescera e se tornara um gorila, a presença constante da Ausência não era mais um fantasma, agora na carcaça de um cadáver um casco,uma cousa pousada sob o caixão.A lágrima não encontrou na memória do afeto a chama necessária, era apenas pote de barro trincado dentro do caixão.

Os passos pesados como toras de carvalho socando a terra como trovão, sempre deram o preciso compasso à caminhada dura do enjeitado, pária que de palha trançou os liames de aço para enfrentar sua maturação androgenica; caminhadas duras entre pedras e percalços quando não se tem os requisitos exigidos pela Seleção Natural.A viril fortaleza foi forjada no fogo,suplantando a dúvida pelo texte da vida, nas ruas e no constante desafio na família apostrofada.

Nadou, nadou na medida em que se afogara de encontrar a morada de toda sua angústia de viver e, morrer de tanto embriagar-se de vida no aconchego da sua última morada,sua esposa.

Contudo quando ela esteve em "estado interessante " o gorila encontrou de alugar um quartinho na vizinhança.Mas sua 'santa mãezinha' ,mãe de sua semente, sacra igreja de sua Aliança Divina com o Criador a partir da qual era perversão incestuosa coitear mesmo que "fazendo amor" e não o fisiológico alpinismo;ter relações poderia ferir o feto.(Assim acreditava !).

Bom,nasceu aquela fábriquinha de cocô, gorduchinho!Demorou para abrir os olhos e quando abriu,a natureza tinha rasgado.

Saiu na noite para comprar charutos e jamais voltou; foi encontrado no alto de uma igreja abandonada tocando um violino imaginário.Vôou como um condor para outra vida entre partidos vidros ou cacos de cristal.


Wilson Roberto Nogueira jr

quinta-feira, julho 22, 2010

É a cidade decantada pela alma do poeta,

assentando grãos de vidas em breves chuvas

de areias no vasto rosto do mar da existência ,

onde peixes da memória

flutuam suspenços no céu límpido do experienciado.


Saciando de quando em vez a fantasia pescadora

do olhar.

O pescador morreu mas os peixes,

os peixes continuam lá para alguma gaivota,

distraída ou faminta voar até lá.

O mar desejou e esperou

e esperou

esperou

es...

a Gaivota não passou

não passou.

O Mar acabou por se afogar de tanto beber

e os peixes evolaram no sonho das algas solitárias.


Wilson Roberto Nogueira
Na geada dos sentimentos

granizos vertendo
de luas prateando luzes

sem calor

gotículas de ácido no mirar



Wilson Roberto Nogueira

quarta-feira, julho 21, 2010

Você, que sozinho sonha multidões,


reflexos dos olhares ocultos sob as pálpebras

do esquecimento.

Aqui jaz uma abantesma

que assombra-te,

mas te desperta

sussurrando...





Wilson Roberto Nogueira
O que sal picava
 pingos de cera

como chuva


Vapor .

Bebo
chama na tua língua

em serra uma história.

na minha

o verbo sem voz

(lido pela tua taça sanguínea)

verbo veloz que você acolhe no útero

na luz de um sorriso semente

que as lágrimas

de cera

esculpem.



Wilson Roberto Nogueira
Duas almas em uma face sonhando outra no espelho

dormindo certezas

areias ilusórias

estórias no pó de estrelas


pó de estrelas

em super novas

explosões
e depois

multidões de silêncios.



Wilson Roberto Nogueira
Olhei para dentro dela


e encontrei espelhos quebrados

refletindo

novas tortas imagens


de fotos rasgadas dela própria.



Mais nada


nada.


Wilson Roberto Nogueira
a aprontar a cama

simplesmente sem pressa
deitar dormir sonhar
a poeira dos dias
sementes das eras
a germinar flores idéias
nos sonhos das quimeras
ambrosias.


Wilson Roberto Nogueira