segunda-feira, dezembro 31, 2018


Aqui no desrazoado da inação ando a capengar no mofo.procuro na luz troncha , alguma molécula de entendimento .


Wilson Nogueira.


segunda-feira, dezembro 17, 2018


A escuridão da madrugada esmaga o grão humano de areia em seu nada absoluto que domina a vastidão de seu anonimato .O som seco de seu ser, sinaliza uma existência que luta para ser vida, a ser Pessoa , a ter um Eu potente que ilumine nessas horas sinalizando possibilidades , escrutinando horizontes. O excesso de cores produziu a aparência da ausência . Tudo ao redor ou aponta ao precipício ou cega pela luz sem vida .

A poeira das horas afogaram as semanas e agora mais um ano se passou na escuridão . Aprendi a ler os odores e reentrâncias das trevas  . A angustia  e o peso da existência não me obrigam mais a senti-los  como açoites . São companhias de viagem

Outrora vi imagens de devires na forma  de fotos , sorrisos e olhares em uma foto, lembranças de uma época que ficou rasgada pela metade . São imagens em alguma gaveta que não se permite empoeirar.

Wilson Roberto Nogueira .

Medo de viver a saga de um fracasso


A paralisia do fraco, impotente diante de tudo e de todos. Esmagado por um gigante chamado medo.  Sujeito que deserta de seu destino e é conduzido com a canga que ele próprio colocou, servil voluntário sombreado  pelo vulto do poderia ter sido que o prende numa cela onde jamais entrará um raio de sol. O suicídio social que cometera  será projetado noutro sem dar conta o espelho que é . Atirará pedras nos outros e em si próprio estarão os cacos a cortarem suas vísceras.
Sempre pairando uma nuvem negra carregada que apesar das trovoadas jamais deixará cair água e o solo seco, rachado , árido queimará os pés e servirá de leito as alvas carcaças .Em meio a companhia de outras carcaças que jamais revelaram suas histórias.

Wilson Roberto Nogueira.

Povo ! povo infeliz ! Povo, mártir eterno,
tu és do cativeiro o Prometeu moderno ...

Castro Alves

A caixa vazia




Alí estava aquele aluno, escarrapachado na primeira fila ; andrajoso em suas calças puídas , a camisa amassada, os dedos querendo fugir do maltratado chinelo, os braços tais quais galhos secos cruzados sobre o adiposo abdome , o rosto amassado escondido sob uma roça mal cuidada com uma expressão que misturava um olhar severo e uma cicatriz que parecia um sorriso ocultando dentes tortos .
Passava o tempo  oculto, imerso  sob os livros. Quando lhe dirigiam a palavra respondia laconicamente , a não ser quando pediam explicações sobre  assunto que  dominasse ,daí  era possuído pelo  espirito de um professor , era reputado como intelectual batizado pela massa aprendiz com a alcunha “O Crânio “ . O crânio tinha a voz monótona de locutor de “a voz do Brasil “, quem a ouvisse dormiria no ato tal seu poder soporífero.
O Crânio era aplicadíssimo nas aulas de humanas, passava o tempo todo a inquirir e tecer comentários com os professores e professoras sobre as matérias ; o programa de uma aula se estendia a três , o que irritava os demais alunos , os quais tornavam –se conspiradores contra aquilo que supunham ser interferência indevida no andamento normal das aulas .
Entretanto nas aulas de química e biologia o Crânio era acometido pela doença do sono enquanto as portas do inferno se abriam nas disciplinas de exatas onde o mesmo sentia o sofrimento e a angústia de estar fritando nas grelhas de satanás .
Pobre alma sua existência era uma contradição e sua alcunha ria a larga de si própria.

Wilson Roberto Nogueira . Piraí do Sul. 26/12/1995

Vestibular 1996




O dia mal desperta e o rádio relógio explode acordando o mundo , é hora de abandonar o reino dos sonhos e ingressar na realidade.
Um banho gelado  , desperta defunto anima o vestibulando que paramenta-se para o combate- Aos exames ! – brada o guerreiro que armado de seus conhecimentos requeridos pelas provas sai destemido, à mão leva apenas caneta, lápis , borracha e os documentos – carteira de identidade e a inscrição.
Abanca-se num bloco de pedra colocado perto do ponto de ônibus, o coletivo demora minutos que parecem eternidades. Enfim estaciona o monstrengo, estava vazio. Meia hora de percurso até o supermercado Real da rua Y, vazio que estava a jardineira colhera muitas flores e muito mato pelo caminho, depois vomitou o vestibulando.
Contornando o Círculo Militar pôde observara imponência do Estabelecimento no qual seus conhecimentos serão avaliados  o suntuoso e tradicional Colégio Estadual do Paraná.
O pátio do Liceu estava tomado por uma chusma. À porta alunas de cursinhos distribuíam sorrisos, jornais estudantis e copos plásticos de água mineral. “Boas Provas !”
Acusava sete horas quando permitiram entrar. “Que palacete !”.O número da sala era o 670 da seção 1. (um ).Entramos, subimos dois lances de escadas, seguimos por um corredor  onde , pendurado, um olho de gigante nos observava, era um relógio imenso. No final do corredor à direita uma sala estreita onde 32 cadeiras estavam dispostas esperando.

Wilson Roberto Nogueira . 1996


sexta-feira, dezembro 14, 2018

navega a vaga na voga a apagar na luz o passado
que renasce batizado no afago do fogo que liberta
da carne a alma das eras no olho da fera feerica
ferida que baila sobre os saberes de sabres
na entranha da guerra que tece a teia na malha de aço
que envolve a mais doce borboleta.


Wilson Roberto Nogueira
flanando na flagrancia de Jasmin
Flor solar olhos de oceano flanar
fogos estrugem dentro da noite sem abalar
seus segredos de amar em ondas
aos arrecifes muitos navios a naufragar
flanando na flagrancia de Jasmin
Sereia onde andas nas ondas
de seus cabelos , seios e seiva.

Wilson Roberto Nogueira. 10/02/1994

A violência

Todos nos sofremos algum tipo de violência em nossa vida desde que acordamos até a hora em que vamos dormir.
Esperando em filas caudalosas ; no recebimento do SALário, no pagamento de impostos que nos retiram o pouco que temos para cevar os cerdos do sistema ; expremidos em coletivos de empresas que tratam o povo como números de seus cifrões assaltando nossa dignidade de pessoas e cidadãos até as violências sem máscara ,como outras formas tão banais quanto  como assaltos , homicidos ...
O abutre da miséria abre suas asas sobre as carcaças dos trabalhadores arrancando os restos de suas carnes , o povo no silêncio de suas passadas esmagam seus sonhos .
A violencia existe nas práticas e nas consciencias  das classes e estamentos que sugam o valor extraído pelo proletariado em  todo o sentido do termo e vampirizado pela classe dominante , parasitária e rentista, suína à medula .

Wilson Roberto Nogueira .

O pleito



As eleições servem como uma prova de fogo para os políticos , todos correm  em busca de votos, porque o que está em jogo é o poder e uma rendosa profissão com pouco trabalho.
Nesta época , o matreiro raposa velha usa de mil artifícios para convencer a galinha , que não vai entrar no galinheiro para  comer os pintinhos, ovos e galinhas. O demagogo mente com tal convicção que o dono do galinheiro abre as portas do galinheiro para a raposa se locupletar.
Alçado ao poder pelos votos dos iludidos, compradas pelos sofismas e pela embalagem, os políticos começam a trabalhar em proveito de seus bolsos e apadrinhados
O povo que espere acordado o dia em que promessas plantadas em campanha eleitoral deem como frutos, resultados satisfatórios aos cidadãos de menor poder aquisitivo que mantem o pais funcionando e são o sal da terra.
Existem homens públicos como também mulheres publicas competentes , que não fazem somente conchavos, não são venalmente corruptos ou simplesmente velhacos , as maçãs podres que conhecemos são muitas, mas elas estão lá porque os elegemos, mantendo-os ‘ad infinitum ‘ por nossa própria irresponsabilidade como eleitores.
Tantos casos de podridão lançados aos nossos olhos pela imprensa , tantos políticos de almas civis pútridas nos fazem crer ,ou melhor descrer dos nossos (supostos ) representantes , cobrem a nós de vergonha com as decisões fabricadas nas vísceras  de um sistema em ruínas .Aqueles alçados ao poder acabam tornando cumplices suas futuras vitimas , para isso entorpecem  e envenenam  a ética e a moral de um povo, com a miséria e a ignorância que fazem fermentar na massa o molde que bem entendem .
O povo diante deste abominável quadro  deixam de conferir , de dar aval através do voto o poder para legitimar a continuidade desta exploração , deste saque  que massacra a ideia de um governo do povo pelo povo. Ao não votar acabam permitindo que outros escolham , pessoas que exercem com plenitude sua animalidade politica.
Inquirir o candidato sobre sua plataforma de governo, pesquisar a vida pregressa do politico para a esmagadora maioria do povo brasileiro, cada dia mais despossuído é arar no deserto na esperança de uma super safra.
Sabemos da existência  de alguns honestos políticos , cada vez mais escassos , estarão extintos ?

Wilson Roberto Nogueira .Em meados dos anos 2000.

segunda-feira, dezembro 10, 2018

CIDADÃO DO MILÊNIO



                     I

O rosto é esconso pela avenida
feroz o cinza nos dentes da rua
atroz o jazigo de encoberta vereda,
sombrio o raio,sombrio o transparente.
O triunfo cruel dos pés
no leito raso,catres de chumbo
grande o fosso de cérebros;
algoz a vereda ,raio mudo;
dedos confrangem a lepra cidadã
envilece num cofre assassino
empedernido sangue do século,
pare nas ventas de monitores
o bastardo filho do século.
                         II
O rosto é a pele do concreto
resvalado no cais de cada esquina
nesta pele que se esconde
o libélo do entardecer
epiderme esquiva,apátrida,
as veias de quiméra
escondem a avenida
irrompe beco e estrada!
caminho esconso daquele rosto
que tremeluz o atalho no semblante,
o sobrevir das vastidões
malha desmedida no apontamento
de palavras e letras que me fazem
para um viés de futuro
carpido nos munturos
o rosto recôndito da rua,
escrito e esconso pelas avenidas.

                                                 Tullio Stefano

Obs:Este poema foi composto em duas partes,a primeira em Curitiba e a segunda  no RJ.       

O EMUDECIDO


  
> 
> Assistindo o emudecer  penoso dos dias,
> procurando crer e descrendo de tudo
> saio a percorrer o enlêvo do chão
> este chão movediço e trêdo;
> leio anátemas que vão da pedra ao néctar,
> é a humanidade a sangrar páramos
> onde a besta jacta e crua passa
> levando em bocas vadias
> o olhar  de cacto peçonhento e rudo.
> Rolam crânios de aço
> e transformam-se os ideais em armaduras
> para o emudecido e incurso vão,
> que anuncia em risonho ranger
> deste arado caos o hosana do porvir.
> -Ó vozes glorifiquem o pesadelo!
>                                              Tullio Stefano
>                                               Curitiba-Pr,16 de maio de 2005.
> 
> Ps:Este foi o segundo poema q escrevi nesta minha aventura ofídica,foi o título e o espírito da poesia inspirados no poema'Aos emudecidos'(An die Verstummend) de Georg Trakl,que tanto me marcou ao inicio de minha navegação no tempestivo oceano da poética.

FUTURO


               
Verdes linhas do invisível outono,
entre réstias de esperança incinerada
um filamento áureo
revivido e decantado nos porões
de memórias obsecradas.
Polém da legendária semeadura
história,da história,da história
rezam nascituras horas.
Fito o secular destino
faminto de futura caminhada
onde corteja o esquife do não nascido;
vanguardas espreitam o futuro dos
dejetos e reacendem fetos sob o cinza,
no pó a verdade fermenta,
o futuro é apenas uma cinza.

             Tullio Stefano
Rio de Janeiro-RJ,2007

REFUGIO E TORMENTA




Aqui deixado num violeta crasso de tormentas
buscando ouvir o som da porta a se fechar,
ver o brilho estacado e o fantasma da luz
pela parede,sem rumor,a deslizar;
enquanto por forças implacáveis
que me focaram devagar,
eu gritava e ninguém respondia o que preluz.
Berrantes,minhas esperanças me voltaram
do patamar enegrecido em que minha face alumiada
olhava as trevas e era vista,sem ver nada.


             Tullio Stefano

Rio de Janeiro-RJ,2007