quarta-feira, dezembro 24, 2008

Homenagem ao Madeira e ao Túllio

Aos Loucos Lúcidos
A obrigação maldita da poesia cortesã, é oferecer buqueres de flores de plástico com perfume parisiense à burguesia sevada de sopa dourada, para receber a última gota da champanhe com gosto de rôlha,mas com rótulo de grife e zeros a acompanhar o valor venal da bajulação. Não confundir com a poesia, gestada na verdade íntima da alma a qual explode ,espalhando as lavas sobre os verdes vinhedos do vale.A mesma força que cobre de cinzas as uvas finas é a mesma que fertiliza seu útero. Espíritos livres;sombras diáfanas de pedras a superar eras. Apreciaremos o néctar de suas vindimas na alma destas cepas raras,que superam as ondas de poeira dos modismos, pois não são sopradas pelo mercado das vaidades e da liminar estreiteza dos luminares dourados dos salões.
Wilson Roberto Nogueira

Olhar Vítreo

Olho dentro do olho de Kalimisos
e não encontro mais o brilho da chama.
Olho e vejo no olho de Kalimisos
a imansidão negra do precipício.

Onde estará aquela criança que sorria
o sorriso da alma no olhar?
Que nadava nas águas de um amor pura chama?

Águas secaram chamas se apagaram.
Sal e fumaça, um eco de um corpo
sem vísceras, sem viço, sem vida.

Estará viva na vida que a violentou?

Restos rasgados de um olhar de penumbra
num cântico de mortalha,
espírito partido do olhar estilhaçado,
cacos de vida.

Amor para quê, qual a razão?

Não existe razão ou significado
Dor compartilhada,
comer da mesma solidão,
lamber as cicatrizes sem nojo.
Ver no outro olhar uma lagoa
refletindo o vidro opaco de sua existência.

Nada, um imenso nada,
vidro na água invisível de si.

Olho dentro do precipício e não a vejo.

Não adianta tatear na escuridão de seu olhar
qualquer sinal de Kalimisos.

Wilson R. Nogueira
Nasceu uma flor num favo de fel
beijada pelo sol virou mel
que à noite, quando a viu,
sentiu as cores de seu doce perfume
e a comeu.


No útero da noite,
estrelas sonham crianças negras correndo;
e seus sorrisos iluminam as trevas.


Voavam esperanças
como plumas na tempestade
sobre rubros rios em fúria.


Wilson Roberto Nogueira
Sentou-se à mesa com seus cães
e eles, sequer latiram tão alto naquele inverno.
Morderam-no.

Wilson Roberto Nogueira

terça-feira, dezembro 23, 2008

Cultura não é Mercadoria

Na sociedade capitalista desencantada, onde tudo é transformado em mercadoria com preço estandardizado, onde através de mensagens subliminares, incitando ao entorpecido ouvinte ou telespectador a consumir por consumir, onde pela insistência de uma receita ‘consagrada’, um best-seller ou uma canção que “emplacou”, e por isso tem sido tocada nas rádios de forma totalizante, sufocando a emergência de novos ritmos, por serem novos e não possuírem apelos de mercado a cultura torna-se medíocre, empobrecendo ouvires e olhares.
Tudo atende aos imperativos mercadológicos, se insere no sistema, é parte de uma ideologia a qual é impercebida por uma platéia idiotizada, que se submete a ilusão da novela, perde o referencial reflexivo de sua condição de oprimida, transformando-se em uma massa disforme de pão moldada pelo padeiro da indústria cultural.
Tal condição se manifesta ao inviabilizar movimentos,que não atendem aos imperativos de valoração mercadológica das ‘commodities’ culturais contra àqueles os quais defendem a cultura como patrimônio intangível, alma de um povo sua identidade,não de meros consumidores , mas parte da nação à qual se identificam em sua conjuntura espacial de destino,na leitura plural de suas manifestações.
É dado relevante a cooptação por parte dos mecanismos de mercado daqueles agentes contestadores do ‘status quo’ os quais são absorvidos oferecendo restrito espaço de manifestação, de visibilidade de sua mensagem, castrando e domesticando sua palavra e práxis.
Como deve ser fabricado e quem fabricará o espelho da suposta identidade, isso de fato é substantivo para a elite intelectual globalizada, da ‘world music ‘ e de maneira geral do que vem a ser’ típico’ do Brasil. O meio transformou-se em mensagem, a arte, heméticamente apreciada pelos meios cultivados ou aquilo que explode no coração da massa na base da raça como traço de uma civilização tropical e miscigenada, pluriétnica, a qual parcela bem-nascida começa a não torcer tanto o nariz. Quem definirá o que é cultura, o Estado ou o Mercado, construir o edifício da consciência crítica ou trangenizar cultura com entretenimento, idéia contrabandeada no riso ou dormindo em meio ao bombardeio de imagens.
A abertura para o diálogo com os sotaques e temperos brasileiros e latino-americanos, enfim o banquete onde o alimento é oferecido ou cai adicto ou ainda nossa dieta básica com o veneno da ideologia no sabor insosso de uma “junk food “.
Precisar lutar com fundas e pedras contra tanques, uma atividade artesanal contra uma indústria e fetiche que determina padrões não apenas às esfarrapadas periferias do planeta, também na Europa, impõe cotasà discriminação e sobretudo a monumental assimetria em protesto contra o “dumping” , que se valendo dos argumentos mercadológicos transnacionais precisam salvaguardar a produção local e o multi-lateralismo cultural nessa guerra por hegemonia, onde mitos e folclore ao invés de vir se amalgamar a substância local termina por anular a expressão da voz nativa.
A visibilidade da alma de um povo trazendo o reflexo da própria imagem , vínculo entre o povo e usa história seu destino comum como nação singular.
O dirigismo estatal pode levar tanto a criação de uma imagem deformada e panfletária, quanto a partir da discussão da identidade formar o nacional a partir da polifonia multi-cultural e não na moldura de um neo-realismo socialista ou a falsificação teatral fascista, mas é fundamental preparar o caldo de cultura necessário para que a massa saia do torpor diante de uma linguajem alienígena, bela mas em sua maioria plana de substância.
Que o estado tome partido de seu povo e não do poder, do governo, levar ao povo a “Kultur “ livrando-o da barbárie.
A reflexão e a busca da sofisticação cognitiva a partir da ânsia por responder as inquietações que surgem a cada nova descoberta, a cada página virada do cérebro ao ler, assistir uma peça ou película;escutar a melodia nos tornam mais distantes dos cães e das amebas.
Entretenimento e relaxamento, remédio necessário mas em doses cavalares redunda em veneno.Tanta gente com AVC cognitivo por ser bombardeada do acordar ao dormir ,até quando pensamos estar nos "informamos "através dos telejornais ,estamos apenas sendo telespectadores de um 'show' de notícias editadas por interesses comerciais .
Quando lemos encartes culturais o que de fato estamos diante é de uma campanha publicitária de uma editora que pertence a um grupo empresarial que detém outros veículos midiáticos. É um dado da realidade, a palavra encarquilhada "sistema"e blá, blá,...é pedra se perpetuando.A sobrevalorização da aparência sobre a essência, para conferir uma embalagem na mensagem epidérmica é eficaz ,embora deturpe e enfraqueça o alimento do espírito(a cultura ),entendido como a "massa-cinzenta" adiposada. A luz que se insinua entre as trevas é a opacidade intuiotiva, ou a saturação do espetáculo por parte da massa , o que se verifica no índice de vendas dos jornais e revistas , o que leva os patrocinadores e financeiras a por mais brindes em oferta.
A função do intelectual é de varrer mitos e por 'mãos à obra ' junto à sociedade ,participando das discussões candentes ,de fundo, da urbe .Cidadão.E não estar confortavelmente se encastelando, subindo ao topo da montanha para escapar do Tsunami da esfacelada e animalizada sociedade. A revolução burguesa que desaguou no desencantamento do mundo,retirou a cultura dos palácios e catedrais da veneração dos demiurgos e dos eupatridas para o comum das gentes .
O que assistimos hoje é o retorno farsesco ao escapismo opiácio espiritual contra as luzes que se mostraram em tal grau de explosões de tecnologia, claridade e drama termonuclear, que pulverizou a certeza no determinismo libertador da ciência e da relevância da cultura como patrimônio de uma Nação (Mercado?).
Nação? Cidadãos ou consumidores?
Sem identidade com seu passado indiferentes ao seu futuro;gado ruminando num presente perpétuo sua ânsia por necessidades supérfluas que abarrotem sua existência de 'sem-vidas' e 'sem rostos'. A nata está podre e pobre de conteúdo por se dobrar à mercadolatria midiocrática, cultura não é uma commoditie, a utopia reside no povo onde brota a alma da cultura.

Wilson Roberto Nogueira

sudores

A criança corre. Boca, mãos e pés sujos de terra. Olhos prêtos de animal perdido. Corre por sobre poças onde bebe uma cadela despelada. O sol queima mas a pele esturricada não sente o calor que açoita com amor. Cai de joelhos o dia, orando pelos olvidados neste deserto à margem do lixo.

O homem feito bicho à disputar com urubus restos de um gambá, ou algo parecido agasalhado com o verde fosforecente de frenéticas varejeiras e uma tonta môsca azul que jamais picara alguém de sorte.

Faltara o olho Salgado, olho mágico na porta daquela mansão ao ar livre de verbo e verve.

Wilson Roberto Nogueira
Minha irmã perdeu o filho de dois anos
e não consigo dizer nada para ela.

Não que o meu coração esteja engasgado,

talvez dormindo,
talvez...morto.

Wilson Roberto Nogueira

Visibilidade Zero

"Quando a viu seminua
à luz da lâmpada de 60
velas Gritou:
"Chega de realidade!"
Os homens não podem suportar muita realidade.
Os poetas,
nem mesmo a pouca,
que o amor lhes oferece."

Háris Vlavlianos.
Voa como um pássaro
o bravo peixe sonhador
penas que brilham ao sol,
como cristais simples escamas.
Simples delírio de um deus
pensando pescar nos olhos frios do peixe
as estrelas ocultas do mar.

O peixe de tanto fugir da fome do golfinho,
vôou, vôou tanto que esqueceu que era um peixe.

Em Kagoshima um fotógrafo sequestrou a alma do movimento.
Um peixe nadando no ar.

Wilson Roberto Nogueira

Angelus


Museu do Louvre (Paris 1859 )
"...uma agonia de anjos violentados por diabos,entre a vermelhidão cruenta das labaredas do inferno. "

Aluísio de Azevedo."O Cortiço".

sexta-feira, dezembro 19, 2008

O que é que existe de humano em nós ?
é o lobo que uiva nas entranhas de nossa caverna comum.
Múrmurios da noite
temperos de sangue.

Wilson Roberto Nogueira

Passarela dos 90

O osso incomoda
é a moda
ela está morta ?
não
está só
cabide de ilusão
só desfilando
no desfiladeiro
de seu olhar
um mero cabide humano.

Wilson Roberto Nogueira
ócio
um vazio
em pleno cio
silêncio
silencio



Wilson Roberto Nogueira

quarta-feira, dezembro 17, 2008

a nuvem chora alegria
ao ver bem-te- vi
saudando a alegre guria.

Wilson Roberto Nogueira
A agulha risca o disco, corre a corrida enfarpelada, faixa por feixe enquanto a música do tempo não para. Em cada ferida endoidecida na epiderme da palavra, uma nova canção jogada fora da estrada descaminhada de alados fiapos perdidos, libertos, para onde? Fogem do faminto horizonte, horrível, multifronte a agulha amputa a melodia, sub verte o sentimento na desatinação do desalinho. Ela olha o olho do espelho, espera na luz, a menina brilhar enquanto a radiola insiste em desafiar a agulha que risca na carreira, o mel do dia . Ela olha no olho do espelho que a lê menina nos sonhos da garoa, o vidro chora ou é a garoa lá fora? A agulha não tem nada ver com isso, risca uma nova canção. Ela não ouve mais, o coração dormiu; miou o gato e, partiu . Wilson Roberto Nogueira
As palavras, babando de tanto serem solicitadas, caem exaustas em bôcas tortas e ocultas por densa névoa, vomitam adubo para outras vozes paridas de sementes gritando em vadias lavas por mais, mais calor!

Wilson Roberto Nogueira
Eu corria atrás de uma estória e ela, corria de mim; quando a alcançei, mordeu-me; e o sangue da idéia escorreu. Não lavei jamais. Agora ninguém chega perto de mim. Livre enfim!

Wilson Roberto Nogueira Jr

terça-feira, dezembro 16, 2008

Minha pequena, perdoe-me essa deslembrança-Precária ponte enevoada sem corrimão;na desrazão da trilha cega; cego ou medroso não me ponho a caminhar nessas tábuas soltas, quebradas e de podres pisares, não me precipito a caminhar, mesmo havendo em seus olhos tanta luz e tanto calor que me bastariam para chegar a ti .Entretanto estaco, como uma estátua de sal ao lembrar por segundos o que o fogo dos céus é capaz de fazer com uma cidade de pecados.
Wilson Roberto Nogueira

sexta-feira, dezembro 12, 2008

Eucorria atrás de uma estória e ela,corria de mim,quando a allcançei , mordeu-me e o sangue da idéia escorreu.Não lavei jamais.Agora ninguém chega perto de mim..Enfim livre!
Wilson Roberto Nogueira Jr

terça-feira, dezembro 09, 2008

Chat Noir


segunda-feira, dezembro 08, 2008

Estou longe da praia
quando ela fala
sinto a brisa do mar.
Wilson Nogueira
Ele corria atrás de uma estória
e ela corria dele pelo temor de
suas sensíveis letras serem
espancadas e sua doce língua
ser violentada.

 Wilson Roberto Nogueira
nasceu uma flor num favo de fél
beijada pelo sol virou mel
que a noite quando a viu
sentiu as cores de seu doce perfume
e a comeu.
no útero da noite estrelas sonham
crianças negras correndo
e seus sorrisos iluminavam as trevas
voavam esperanças como plumas na tempestade
sobre rubros rios em fúria...

Wilson Roberto Nogueira
As palavras, babando de tanto serem solicitadas, caem exaustas em bôcas tortas e ocultas por densa névoa, vomitam adubo para outras vozes paridas de sementes gritando em vadias lavas por mais,mais calor!

Wilson Roberto Nogueira

A ´´Ultima Consorte

A vida dera-lhe tantos socos , que o tapete de pele de sua face
mal servia de testemunha à sua história.
As ruínas não passavam de um monturo onde pele e dentes
desertavam da pálidez; a própria face fugia de si , afogava-se
nos poços negros de olhos sem espelho.
O sentimento não mais escorria, escorria apenas a baba bovina
no hálito de catacumba . Não mais a provar o néctar na seda úmida de uns lábios de mulher.
A carne já não lhe dizia, silenciara a espera dos passos balbuciantes da companheira; deitado e a incaroavel por mais uma noite lhe negara a visita.
Wilson Roberto Nogueira

terça-feira, dezembro 02, 2008

Wilson Roberto Nogueira na BPP


Cuspindo fogo,
enfado de feras
na voz cimitarreante de pretéritas eras
Silvam serpentes nos olhares dementes
Ela corou, tocada pelo coro das almas condenadas .
Deu um sorriso só, amostra de Paraíso, e comeu;
dádiva oferecida pela serpe pensativante.
Wilson Roberto Nogueira

Vida placebo

Tu compras a roupas dos gostos dos outros.
A tua persona é manufatura coletiva.
Bebo a bebida ou a bebida me bebe o fígado?
Fumo ou a fumaça fuma-me os pulmões?
Embriagado na ilusão da imagem distorcida,
perdida na fumaça do prazer fugaz - Quem tu és diante do espelho?
máscara de cêra da sociedade seletiva. Civilização do disfarce
Pasteurizada estória insípida água sensata do senso comum
de mentiras repetidas paridas de bom-senso burguês.
Feliz fumaça da urbe insolente indolentemente deitada em suas certezas
doente de dogmas amassados pão-velho.
Pro pobre não tem não Só o sermão neoliberal Burguês
bebido pela bebida dos dias cinzas
Feliz pastando na mediocridade
civilização em coma
fumando a fumaça dos escapamentos e expulsando fumantes
assassinos
Feliz espelho das ilusões onde repousam todas as máscaras.

Wilson Roberto Nogueira
Um general em geral não tem mandato para prender a realidade.
Ele não pode mandar prender e arrebentar. A Sombra do tráfico
tem corpo e se agiganta crescendo em meio ao vácuo...
Ou não.

Wilson Roberto Nogueira

Enumeração de um dia qualquer

Acordar. Sol da manhã. A luz que a tudo escurece. Pássaros cantam e voam. Sombras contra o céu. Levanta, tomar banho. Voltar ao útero-banheira. Não! Água que queima de tão gelada. Vida realidade. A vida é um bloco de gelo. Tapa na cara. Acorda ! Tapa na bunda. Nascimento é dor. Um tapa na cara. "Ô cara", acorda ! Ser adulto é estar só. Da manhã o sol extrai esperança. Essa é sua herança divina. A rotina rói o dia. Mais um dia!Bom dia! Quanta irônia oculta na nuvem. Mais um dia cheirando a café e o tempero das "calles" caladas invadindo o oco do estômago de eca quente, vapor urbano,ruas sonolentas de zumbis como fios de fumaça de velas a se apagar. A urbe se espreguiça despertando os trapos onde dormem seus resíduos. Vagam com o vento folhas secas sopradas, fogem para longe. Enquanto correm, dançam com o vento tresloucas. O rato corre o rato foge Gabiru come do lixo cobre o rosto, a cara o resto, rasteja para longe o condenado. As células da cidade também tumorizam e morrem. A cidade desperta e estica seus tentáculos gesticula e revivenas suas veias corre feerica insaciedade, faminta por sangue, dinheiro e vida famaluz efêmera, descartáveis personas,zonas luminosas, luzes foscas, calientes fossas ;Pantagruélica devora vida, mastiga sonhos e vomita exclusão.O bêbado cai e dorme de morrer em parcelas . Para que a pressa? A cidade ainda respira oculta na fumaça.
Wilson Roberto Nogueira

segunda-feira, dezembro 01, 2008


Bom, a serpe também sorri, rio de lâmina, navalha lambida. Sorri a serpente demente, tateando com a pele num lânguido apêlo. Dor, Sorri rumorejando a tatear com a pele lustrosa e lisa, gelada de sentimento, lamento lancinante. Oh olhar ausente,sinuosa e sensual serpente,serpente de suposto veneno.
Wilson Roberto Nogueira