sexta-feira, novembro 29, 2013

Estava carregando um peixe que num salto triplo escorregou das mãos numa rampa de chuva e lá foi se fartar de girinos no bueiro.rezo para que um rato o  tenha comido .

Wilson Roberto Nogueira
O arbusto que atendia pelo nome de João,ganhara de presente de aniversário um caminhão do seu evadido painho.A Mãe resolveu acrescentar um adicional ao amarelo da caçamba , sua urina.Isso porque o pequeno lembrava muito do amado desertor .


Wilson Roberto Nogueira

É assim mesmo, a foto vai se apagando ou vamos dia a dia passando a borracha, virando a página...Viver é conviver ,fazer vínculos caso contrário é só existir.Se penso já tenho companhia.Embora seja tal um porre de vodka de fundo de quintal.O rato só aproximava-se da luz de suas lembranças para melhor conduzir as letras em suas fracas patas sujas de tinta e mesmo assim conseguia produzir um modesto verso que lhe agasalhava de sombras e sonhos.


Wilson Roberto Nogueira

segunda-feira, novembro 25, 2013

O Abantesma


Minha vida, se é que posso chamar minha existência de vida, está envolta por densa escuridão. onde Pisar?Somente as trevas conseguem ver o fim do caminho.Abismos famintos a espera de pé cegos. Que aguarde.As mãos da vontade está órfã de fé e o candeeiro do coração jaz apagado.Ainda sim, os pés insistem em apagar as pegadas da estória a cada pétreo passo .Ossos da alma vento de lamento murmurando entre os galhos secos dos arbustos neste inverno de Luas cegas .Viver é compartilhar o pão de se estar vivo é construir vínculos .A casca dura sufocou a semente .Nada brotou nos dias afogados na memória.Vasta planície sob o manto da noite sem estrelas.Sou um insone cadáver que não escuta suas próprias correntes que construídas elo por elo dia a dia com engenho e arte a cada renuncia,hesitação, cobardia agora são ossos sidereos que rasgam a pele da minha existência .Por ora aguardo no Limbo morno da desilusão.Essa é a minha pena vagar entre os vivos sem viver.

Wilson Roberto Nogueira

Na morgue ao desmaiar da noite


A noite na campa é mais presente. No suor das almas que caminham  na neblina sob o prateado olhar da Lua faz as caveiras sonharem com páginas amareladas na pele das lembranças .Em seus leitos livres de correntes ,vagam livres entre as lápides a saborear a canção do vento nos ramos secos dos arbustos.

Ali Jovens perseguidos por seus medos procuram se atirar contra eles como quem se atira contra o abismo para sentir a derradeira brisa na face.Jogam cartas com o destino no jogo do lenço ou da roleta russa.Sem resultado.A porta dos sentidos se fechara sobre os dois .

Na outra esquina do cemitério sombras aliviavam a última propriedade daqueles que não mais se alimentavam de amanheceres presos em catedrais de ossos e carne.Esqueletos, cadáveres para a ciência e obturações de ouro para tão dedicados lavoradores de corpos.

abutres pacientes esperam que sobre algo dessa festa e a coruja o alerta de que não há mais uma nesga se quer para o compadre funcionário público padrão lixeiro exemplar .Amanhece o dia e mais uma procissão tem inicio .Serão Turistas ?

Wilson Roberto Nogueira


Moribundas madrugadas que se arrastam até o amanhecer
Sol acuado na vaga liquida onda de tempestade o envelhecer
das horas cobras que se alimentam das serpentes da memória
onde está o candeeiro do meu coração nessa terra inglória?

Wilson Roberto Nogueira

A palma da mão desliza sobre a página
pausa a palma na página
dorme o tempo nas entranhas da palavra
germinam no silêncio frondosas árvores
de vastas florestas.
O tempo porém é o machado que se alimenta
das cinzas das horas .


Wilson Roberto Nogueira
Tropeçara em suas muletas e a partir da queda passou a ter uma visão mais concreta da vida.


Wilson Roberto Nogueira

Andava a  pisara seda de seus sentimentos.Um dia rasgaram e os fragmentos dançaram livres com o vento.


Wilson Roberto Nogueira
Ela procurava dissimular afeição ao seu coração espalhando espinhos com o olhar.


Wilson Roberto Nogueira
cai o pano e o palco apresenta O Farrapo.


Wilson Roberto Nogueira
No meio da multidão ela mergulhava naquelas páginas rasas e intermináveis.


Wilson Roberto Nogueira

domingo, novembro 17, 2013







Em cada pegada uma cova rasa
de dor regada
cava de vinho doce
semeada com bagas amargas
gargalhadas de vidro quebrando na escuridão.
Em cada passo sonolento
um pouco de morte e desalento
sonâmbula fome de viver o tormento
tormenta tocando alaúde em Sevilha
0 punhal daquele olhar de cigana
dançando flamenco
gotas de sangue e areia doce
digeridas com insaciedade de sol e sal.
Sevilha eterna

Wilson Roberto Nogueira.1997



Em cada pegada uma cova rasa de dores regada


Gargalhadas de vidro quebrando na escuridão
enquanto passos sonolentos sentem
o sabor da morte no desalento.

A fome de viver torna-se tormento
na navalha que corta com um sorriso
gotas de sangue temperam a areia dos sonhos.

Digeridas com insaciedade o sal e o sol dos dias
anoitece sob os escombros almas vazias.

Wilson Roberto Nogueira
Ni
nicotina
na rotina
rói a retina
da razão.

Ni
nicotina
cortina de fumaça
que embaça
o pulmão.

Ni
nicotina
da vida tira a tinta
restando
o carvão.

Wilson Roberto Nogueira




segunda-feira, novembro 11, 2013

O livro deitado de bruços na escrivaninha  coberta com  um papel vermelho onde letras discursavam para as massas de pão  e ácaros - O analfabeto politico de Brecht o silêncio embolorado da manhã encarcerava a esperança.

Wilson Roberto Nogueira
Comprara livros .Lia ?Eram vidas que o mantinham em pé.De si  só vidas dos outros.Pensamentos-velas e idéias  âncoras munição para o espírito.Até o jogarem no arquivo morto da repartição.

Wilson Roberto Nogueira
Pulava de financiamento em financiamento o professor trotskista."As condições objetivas !" faziam-lhe calos 'Ah , que apertado o sapato do capitalismo!"

Wilson Roberto Nogueira
bebia as lágrimas salgadas da pétala de sua amante até sugar-lhe o rubro botão.

Wilson Roberto Nogueira
O senhor polonês a cada chicotada no seu criado ,atirava com uma "Ave Maria."

Wilson Roberto Nogueira

A semente oca .

Ler no braço toda uma história - as placas de gordura , as pelancas, as casquinhas do ressecamento; tudo marcado pelas vírgulas das cicatrizes;cada letra com o devido  pingo  de sarna.Um pergaminho de deterioração, degeneração a espera do ponto Final.

O olhar perdia-se no opaco enredo de u'a estória  de desenganos.

Naquele café esfumaçado bebia a si próprio , a cada gole ,enquanto o tempo passava .Impreciso caminhar."Que horas 'serão' , será noite ou dia ?Não importava mais, sua juventude se fechara e só restara uma lâmina de luz cortando os pés da porta.

Chegou em sua sórdida morada embora não tenha lembrança de haver caminhado até lá .Pôs-se a descamar-se de suas roupas e a medida que se aliviava delas , não encontrava sinal de si.A sombra que o perseguia , perseguia o sobretudo que ora o cobre de seu derradeiro inverno .

Agora entre o pó e as teias  de seu quarto tornara-se o vulto translúcido de seu trincado espelho.

Wilson Roberto Nogueira

sábado, novembro 09, 2013

Sonhei com um ônibus que rodava sem motorista.Olhando para o banco preto e rasgado,
uma garrafa de conhaque lazarento.Não lembro do paradeiro da estória.Perdera-se na nuvem e por isso , não encontrou ponto final.Afinal aquela jardineira descarecia de viventes .

Wilson Roberto Nogueira
O convento está entre suas coxas .Uma cova ao relento.

WN






A suicida

Da janela uivava o vento vagando na noite  a alma acorrentada, que  enfim livre, voava no último sopro
da noite.No espelho do olhar da lua ,a pele qual nuvem de seda chovia ansiando o toque.O  último beijo
no sorriso  do asfalto.

Wilson Roberto Nogueira

terça-feira, novembro 05, 2013

O rasta procurava Jah na fumaça que lhe falava às chamas do coração
Cantava com os pés as melodias dos espíritos entre os cornos da Babilônia
Mas era só névoa e sonho de seu último sono
nas trevas via cores e sentia o beijo da vida na caveira fria
tirava forças nas quebradas de seus pesadelos
sorvia loucura nas taças do pranto
só assim sentia-se vivo sendo sombra que nascia de si um
outro.
Na busca do Eu perdido no labirinto só encontrava a face rasgada da Babilônia
Efêmera fumaça que se dissipava na vertigem
último sopro na boca da morte virgem.

Wilson Roberto Nogueira