quinta-feira, fevereiro 26, 2009

AbSurdo

Abre e escuta a surra de cacofonia do inverossimil
delirio das cores desertoras no coração espatifado da razão
Zomba surdo no labirinto Ab Salão
sem sair e sem ter razão
preso em sí a saltar sombras ,a espoucar absolvição
toda a ferida culpa patiferina
louco como o absurdo mundo cão que não late
mas também não larga o osso da caveira da civilização.

Wilson Roberto Nogueira
Sou massa
sou preto
sou rubro-negro
sou da massa
assalariada
da vida que nada tem de hilária
toco samba
danço.

Wilson Roberto Nogueira
Quando ele caiu em si,
caiu de tão alto
que não houvera como despregá-lo do chão.
Sobre a escura e rubra mancha que deixara;
colocaram um tapete roto onde dorme um sabujo
a lamber as pulgas da orelha.

Wilson Roberto Nogueira

O que só o sombra sabe
sussurrar sonhos de cores desertoras em desertos noturnos
de sombras nem sombreros ou cobertores
só dores
apenas olho prateado lagoa alheia miragem
conduzindo sussurros na forma de sombras
ora camelos ora palmeiras
ora a hora vaga da insolência da insolação insone
que despertara em outra noite de outro ontem.

O deserto é mais humano a noite.


Wilson Roberto Nogueira
sexo
é só isso
que sedento
Sou.


Wilson Roberto Nogueira

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Pássaros


ferro-via abandonada
destila caos apagado
dissolvido em verniz sem validade
existe verde, bem como oxigênio
abrindo-se em infinito
cercando a eletricidade desativada abaixo dos pés
e, apesar dos movimentos,
existe a sensação de congelamento
o tempo é cansado
aqui, nenhum relógio marca a hora certa
os sinos são gárgulas no vão das igrejas
pacto matrimonial com o silêncio
os pássaros definham diante do vago
abrindo asas sem alçar vôo
abrindo bicos sem emitir som
mudos como o nada
que habita os que dormem e não sonham.

Camila Vardarac

http://www.vaga-lumens.blogspot.com/

Passarão,Passarinho, Passarinhada

Já pensou no que comem os passarinhos?
Aqui em casa em nosso quintalzinho só tem duas árvores, amorinha e araçá. Mas que vive o ano inteiro repleto de passarinhos.
São sabiás, andorinhas, bentevis, pardais, corruíras com raridade, e até as maritacas já deram o ar de sua graça por aqui.
Fiquei espantada quando vi que eles esperavam os meus cachorros saírem da área de risco para posarem sobre a ração. E isso acontecia com freqüência.
Temos três cachorros, mas contabilizamos quatro na compra do mês, pela quantidade de pássaros que se alimentam aqui em casa.
Eles não são mais limitados a comerem grãos, frutas, como eu pensava. Agora, aderiram em sua alimentação à variedade composta de carnes.
Certo dia, ao andar no conjunto onde moro, vi um grupo de passarinhos disputando uma banana que estava no gramadinho, em frente a uma casa. Como vi a senhora, dona da casa, aparecer na entrada, comentei sobre a banana, admirada. E ela falou mais, que no telhado de sua casa ela colocava água, pois eles não tinham mais de onde beber, pois os rios e lagos haviam desaparecido, com a evolução da cidade.
E ela comentou mais, que vinham de onde eram mata e que hoje viraram plantações, e que com venenos, as plantações verdes, hoje lembram apenas a dor no estômago, com gosto de remédio, para eles.
Comentei sobre o meu quintal, que eles se alimentavam de ração, e ela disse que era devido à fome. No desespero, eles aprenderam até a abrir o lixo. Lixos aliás que se enchem de abelhas, vindas das regiões desmatadas. Elas também estavam de mudança, e, na falta de flores, se contentavam com a coca-cola das lixeiras, pois também contêm açúcar.
Um senhor que vem vender mel por aqui, disse que está procurando outro trabalho, pois as abelhas não querem mais fazer favo e nem estabelecer família na roça. Querem é viver na cidade grande, que tem emprego e comida!
Então resolvi abrigar esses pobres coitados, que foram desabrigados de suas terras, seus trabalhos e que agora tentavam a vida na cidade grande.
Coloquei duas bacias de água e comida no telhado. Num ponto em que eu tenho uma visão estratégica. Assim, eu posso me sentar e admirar a passarinhada, se revezando para mergulhar. Às vezes, se empurram num clima de “criançada na piscina”. E parece que eles pressentem quando a fruta está “artificial” demais, eles nem encostam o bico nela.
Domingo, eu tive uma surpresa triste e não sabia o que fazer. Minha gata subiu na área deles e capturou uma pomba-rola. Trouxe-o, ainda vivo, e tentou matá-lo em minha frente, talvez para eu parabenizá-la pela conquista. Eu rapidamente a espantei e peguei a pomba-rola na mão, para ver o estrago. Estava com o rombo, perto do pescoço.
Eu tive uma vontade de chorar, imaginando a dor que passarinha sentia.
Liguei para um veterinário, amigo meu. E ele disse que não havia o que fazer, pois pássaros são animais complexos e sensíveis demais. Era melhor dar para a gata terminar o serviço.
Coloquei-a numa caixinha de sapato, para não ficar voando e se esborrachando no chão. Pois ela estava sangrando, mas com um olhar firme, determinado a fugir. E eu fiquei feliz, porque era sinal de que estava forte e conseguiria viver, se cicatrizasse.
Passei aquele dia angustiada, pensando num analgésico, num curativo que o fizesse parar de sangrar. Não conseguia nem olhar para minha gata, que me pedia colo.
Segunda-feira, estava acordada desde as seis da manhã. Olhei dentro da caixinha e ela estava lá, querendo fugir. Ótima notícia! Oito horas da manhã, liguei para o IBAMA. Queria uma informação apenas, nem iria dar meu endereço, pois podiam me multar por ter um animal silvestre em cativeiro, pensei logo. Surpreendentemente, eles me informaram o telefone dos agentes do meio ambiente para socorrem os animais. Liguei, passei o endereço e a urgência: salvar uma ave! Nem falei a espécie, para não classificarem a importância na cadeia de extinção. Fiquei aliviada quando me falaram que logo pela manhã apareceriam em minha casa.
Hoje, sexta-feira, depois de uma longa espera, enterrei a pomba-rola. E pela janela vejo a passarada ainda a cantar. Destino natural, uma gata pegar um pássaro; destino natural eu continuar me encantando com suas peripécias.
Tainá Pires,

Agoniza empanturrado o dia ;dormência em cólicas desaba o morro,tudo se converte em pastosa despedida,despe-se em ruínas o oculto pranto ,torna em pedras macias vidas,sujeira em almas limpas passando sopro divino,só mais uma ceia de cães vadios.Restos humanos em faces animais.Anjos voam para não voltar.Chove sobre o entulho urbano;morre um rio renascido em poça.Catador nada em busca da latinha;afoga-se em coco.Urubus namoram futura comida que ainda sonha com a filha e a mulher;passa um tiro de desespero.Sonhos nunca teve ,só pesadêlos.Que preciosos momentos a morte presenteia !Um sorriso de uma criança ,o amor da esposa.O urubu pousado no crânio será o almoço de amanhã da familia que procura na memória o rosto do afogado.

Wilson Roberto Nogueira

Guernica


Navego em sua voz
seus olhos são velas
que me impulsionam para longe
até eldorados ou fim do mundo
não me importo
danço com as ondas da tua maré
por que me é doce morrer em teu mar.

wilson Roberto Nogueira

sábado, fevereiro 21, 2009


sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Guerra

O olho dágua nada viu que lembra-se uma gota de chuva,mesmo ácida.
Olho sêco de catarata negra, como a peste testemunha da incúria;filha
bastarda da guerra;aguarda sob o muro da fábrica gafanhotos de metal
sedentos de árvores negras que perfiladas, ao som de wagner,
marchavam como batalhões espectrais da história.

Wilson Roberto Nogueira

Reunião

Na gota de saliva
um buraco no chão
chora o sorriso de vergonha.


Wilson Roberto Nogueira
Caiu um cometa na escola a cometer um suicidio na meritocracia;
cravaram os pregos nos punhos e pés da inocencia.

Wilson Roberto Nogueira
só mesmo esses olhos
para acordarem tais parcas pedras
perdidas.

Wilson Roberto Nogueira
As perdas produzem ganhos inesperados
mesmo as dores nos aliviam a alma
até quando morremos a cada noite
Olhamos as luzes de luas impossíveis
luas negras de brilhantes invisíveis
que nos soterram de sedução
nos tornamos qual sondas de carne e nervos
que se consomem na medida em que nos degradamos
em suas vísceras
sepultura liqueferante de ácidos e esquecimento.

Wilson Roberto Nogueira
Caiu a cara do malandro
quando a casa caiu
a cara perdeu a face
e a maloca ganhou um rio.

Wilson Roberto Nogueira
O que só o sombra sabe
sorrir só
sonhando em prantos
Tomar para sí o suor apócrifo
da alma afogada no sorriso dos olhos
da flor que feneceu sem
poder exalar seu olor.

Wilson Roberto Nogueira

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Em Amarante

um único só dia supliquei e ela,vadia
respondeu com um sorriso
DELICIOSO .
O dificil foi explicar, mas expliquei , lá em casa.
O que restou das sobras,o que prestara; só para
continuar na presença da sombra com um copo
de pele;a carne e os ossos ficaram sepultados
no Éden daquele sorriso.
Lá em casa.Panos cobrindo uma moldura sem quadro,
sem as tintas da alma,só a parede do outro lado.Parte
da casa que a patroa conhecia.

Te ama a ausência o teu troféu empalhado da posse
A imagem absorvida no objeto ecoa na tua voz o silêncio.
A vida está em outro lugar
no beijo da promessa de um sorriso.
sexo é vida só com pessoas vivas.

Wilson Roberto Nogueira
Com a camera à mão
pulsava na lente um coração
em prêto e branco.

As cores desbrilhavam
voando pálidas sonhavam
pálidas almas desluziam
libertas à voar.

Em prêto e branco
olhares à procurar
com a voz das imagens
nas sombras da retina
a mão pétreo cajado do tempo
segura as cordas a prender as garras
da liberdade.

O fio voava com as leves correntes da falsa conciência.
Mas a imagem do pássaro da liberdade voando livre vive
A pomba na sombra é uma águia.

Wilson Roberto Nogueira

domingo, fevereiro 01, 2009

-Querida,seus olhos precisam fazer regime !
-Não estou olhando para ele .
-Para ela ?
-Olhe para aquelas olheiras !

Sobraram aquelas sombras sobre os olhos mortos, levantaram das covas a arrepiar .

Wilson Roberto Nogueira
O frêmito é a fresta do prazer

Bebi um pingo de morte
e procuro por ela
e não tenho sorte.

Ela me beijou com todos os lábios
e dentro dela me esqueci
hoje estou sedento de mim
e não a encontro mais
a perdi...

Wilson Roberto Nogueira

canivete

O paralelo do espelho é o ego
Sempra aumentando a espada.

Wilson Roberto Nogueira
Ele dela afastou-se pois a sombra o esmagaria
chegou perto de se perder e dentro da alma dela
olhou em volta e dentro daquelas entranhas
havia vida fervilhando fervendo demais.
Fugiu e foge até hoje,mas a
sempre o perseguia até o limiar do abismo.
hoje maior que a sombra mira o céu infindo
a dor do abismo serenou no pesadêlo diluido.
No céu traços de vermelho
pincél desleixado no céu azul.
Ela sorri livre.

Wilson Roberto Nogueira
"Uma boa coisa que nos impede de desfrutar algo ainda melhor é na verdade um mal."

Baruch Spinoza

Soldado Americano na Tunisia 1943

http://news.bbc.co.uk/
magnum photos
-Como você está magro!
-É conveniente quando se tem pouco para comer.Alimento-me sobretudo de letras vagabundas,elas me põe de pé.

Wilson Roberto Nogueira Jr