quarta-feira, dezembro 29, 2010

Os Eleitos

( Fresco da Capela de S. Brizzio, Catedral de Orvieto, 1500)

terça-feira, dezembro 28, 2010

Numa criança- mulher brotou uma flor sem nome



flor guardada num saco de estopa e enterrada



no útero da terra sob o lixo.Uma cadela gania



de fome mas não comeria daquela semente enterrada



que lutava surdamente para germinar sob o sol mais um dia.



A criança que teve a infância roubada implorava por uma pedra



daquele ao qual a estuprou ,prometeu.O fogo da fuga e do delírio



um pouco de inferno numa vertigem para ver as próprias entranhas



e cuspir na própria face por umas moedas , sexo e mais um pouco de sangue



e ácido plantando flores sem nomes de sementes secas.



Wilson Roberto Nogueira
O riso solto saltava de um coração preso e caia,


levantava e fugia cego rumo ao desespero , a loucura .

O riso era um rio onde o coração -âncora afogado se nutria .

O riso enganava a tristeza que procurava ceifá-lo no lado escuro da luz.

Por isso o riso não dormia na escuridão

olhava para dentro e lhe matava o coração.

O riso era a máscara da alma rasgada em prantos despedaçada

chorando o fogo no suor desafiando a negra consorte

vertendo vida em gotas num mar de sal.

Rir desafiando a morte esperando por melhor sorte

espera rasgando o rosto numa sombra de sorriso

em olhos cegos de tanto olhar.



Wilson Roberto Nogueira

terça-feira, dezembro 07, 2010

segunda-feira, novembro 29, 2010

two sculptors

domingo, novembro 28, 2010

O que voce vai ser quando encolher ?

Um ponto numa vírgula sobre um papel em branco encolhido de molhado

Só uma sombra bravia no vazio.
Só um cio de um "c" sobre uma cedilha.
Só vapor de susto no grito mudo de um enfarto.
Um porto de formigas numa  efemera poça
átomo de desejo de ser grande mesmo sendo pequeno.
Dois átomos   amorando .


Wilson Roberto Nogueira

Urbe cínica

Na calçada ao lado da sua companheira de trabalho o motoboy é assistido por algumas pessoas.



Em volta, como velas humanas de devoção a banalidade.



"A ambulância virá em um minutinho".



"Você chamou ?".



"Não , a bateria do meu cel acabou. ".



"Bom, pelo jeito ele pode esperar."



"Você sabe,eles não tem responsabilidade, um dia isso tinha que acontecer mesmo a um deles".



"Vai ver mereceu"



"Deus do céu,não fale assim !".



"E eu aqui no chão tenho que ouvir isso, e ninguém me escuta !"



Chega a ambulância e partem todos, menos o morto que partira antes ou estavam todos ;voltando a suas casas como fantasmas sem lançar sombras aos passos .



Wilson Roberto Nogueira

quinta-feira, novembro 18, 2010

Solimões

terça-feira, novembro 16, 2010

Aquelas palavras foram o cigarro que ela apagou no meu coração
foram só palavras, cinzas sopradas de um cinzeiro agora vazio.
As cinzas silenciosas sem sombras, cinzas de um coração.

Wilson Roberto Nogueira

quarta-feira, novembro 03, 2010

Enquanto distraído escrevia ,ela olhava-me e olhava e .Continuava olhando ,enquanto eu escrevia.Quando enfim olhei para ela , correu estrepitosamente sobre as esmaecidas folhas de jornal escrevendo com as patas negras de nanquim ,novas histórias de enigmas.




Wilson Roberto Nogueira
De repente um corpo estranho adquiriu vida


e se pôs de pé...para matá-lo sai à procura

de uma cova.Encontrei .

Wilson Roberto Nogueira
Uma abelha,minha comensal chamou suas colegas.O sangue doce ou era o sabonete de própolis que a convidou a se apresentar e depois a nadar na calda dos pêssegos?


Wilson Roberto Nogueira
Encontraram petróleo no pré-sal !


O petróleo é Nosso !!



Yes I Can...



O lobby das sete irmãs cresceu

virou Lobão.



Wilson Roberto Nogueira
No denso lençol de água


ele foi tragado para o útero da Rua dos Chorões.

Dia cinzelando lagrimas em Curita.

Wilson Roberto Nogueira Afogados na Cidade

Nas sombras os gatos pardos em insuspeitas fornicações entre o crime público e o privado dão à luz a ninhadas de trevas.



Wilson Roberto Nogueira
Depois do rápido coito comercial


corre uma carícia despreocupada

incidental

e um longo e suave cafuné.

"Obrigada;não,não precisa pagar "

Wilson Roberto Nogueira
Aqui me querem e quedo-me tranqüilo


como o mergulho de ancoras em profundo mar

criam corais e em pedra me torno ao contemplar;

Asas de peixe prateado brilham pingos de escamas ao sol,

vôo longe no silêncio da manhã.

No céu liquido dos meus sonhos vejo estrelas

onde só existem escamas mortas boiando ao sol.

Coral múltiplas vidas simulando pedras coloridas

esbranquiçadas esperanças das experiências

na efêmera maré da vida.



Wilson Roberto Nogueira

Chernobil

Padres violadores de vulneráveis


Pais espirituais

Espíritos suínos.

O Santo Padre não vê

não ouve

não fala.

O papa está morto

ou está nas trevas?



Wilson Roberto Nogueira
Uma gota de café expresso sondava a aromática manhã


Aroma da África no corpo de uma dançarina moura.

Sonha o amanhecer que não sabe beber os dias

que a máquina irá sufocar sua magia e ganhar

muito dinheiro.

perdendo o sonho o café alimenta o escravo.



Wilson Roberto Nogueira
Não sou escritor ou poeta, sou escrevinhador amador; não amo as dores .Remo contra essas vagas.Mas escrevo,como quem lavra a dor.Planto e as sementes que teimam em fazer névoa num devir fantasma.


Wilson Roberto Nogueira
sabe que eu já não me alumbrava estando no desalento das idéias






na perseguição atocaiante da desdita



Nas vagalencias das partes quedei-me em caimbras de vida.



Wilson Roberto Nogueira
passos porosos


irrigam de sangue

os caminhos rochosos.



Wilson Roberto Nogueira
veja,


esta mal cuidada,

o véu do desleixo

cobrindo a boca

com uma lápide.



Wilson Roberto Nogueira
O professor impotente


verte em cada lágrima

uma corrente.

Queria libertar os alunos;

Ele um escravo.



Wilson Roberto Nogueira
No vertedouro de lixo


numa criança- mulher

brotou uma flor sem nome.



Wilson Roberto Nogueira

Na Escrivaninha

A minha musa estalando de calor veio sob a forma de uma barata tonta gingando,exalava insolência.


Eu a assassinei com gás ?Não sei se a matei.Os móveis estalam e lembro-me dela.Duas páginas em branco.

Preciso de dinheiro.

Wilson Roberto Nogueira
Bom minha nega;eu sou e não sou o Cara.


Só sei que o selo de Canalha

que me colocaste,levou-me a outra fornalha.



Wilson Roberto Nogueira

terça-feira, novembro 02, 2010

Uma gota de lágrima


defuntos peidam

do pranto se fez o riso

caiu o queixo do morto

As carpideiras continuavam carpindo

dores na alma não sentida

em choros profissionais

enquanto a criança soluçava com a alma

dançando com a alma da morta

de contente.



Wilson Roberto Nogueira
O inverno vinga


pinga o nariz

pinga na goela.

O inverno vinga

e o amor dela

por um triz

não se estatela.



Wilson Roberto Nogueira
Carnaval


aval da carne

fresta tropical.



Wilson Roberto Nogueira
Você suspira por mim ?


quando ela foi responder...

um sopro no coração

evitou que mentisse.



Wilson Roberto Nogueira
Por cima de suas coxas

a perna se perdeu;




tentava vasculhar



e beber um vaso de sangue



dos seus lábios secretos



encontrar



encontros novos com você



Onde está a tua essência ?



Sonhei contigo

Wilson Roberto Nogueira

mau-hálito

Caiu na lábia


nadou na saliva

afogou-se no desencanto.





Wilson Roberto Nogueira

segunda-feira, novembro 01, 2010

Tokyo
empresária e açougueira de sonhos e fortunas.
Cobrava tão barato para que lhe abrissem
novas covas nas cicatrizes .

Wilson Roberto Nogueira
Na sauna ele perdeu o complexo de inferioridade.


ficou com saudades do trauma e amamentou uma puta doida.

Wilson Roberto Nogueira
Os meus sonhos estão à esperar os abutres;


os quais estão tão tontos de tanto os sobrevoar.



Wilson Roberto Nogueira
Nuvem nefanda


alimentada por sinistros ácidos

de luciferantes fogos multicolores

mascarados em alegria

guardam profunda dor no rosto

tumorado de pesadelos.



Wilson Roberto Nogueira
pedra esquisita  perdida em dramas


trama  esquiva nas esquinas de glacial

coração.Voa alto o pétreo  falcão da utopia.

só a rocha persevera nas velhas primaveras

enquanto cresce a hera até o sopro das escamas
fósseis das pétalas da esperamnça

utopia que já foi um dia

pedra que um dia respirou vida

foi por um homem parida

voa a alma liberta nos olhos

do falcão.

Sonhos em cinzas voam esperanças.


Wilson Roberto Nogueira
tentando tatear o tredo engano


enredo de rede siderea

só a esperança respira.

Wilson Roberto Nogueira
sou um comuna gauche


nasci desgraçado desgarrado da sorte

mas lamentar não lamento

sou do contra

Como diria Perin :

do contra de mim mesmo

e vice verso sobrevivo na vontade de viver

o vento do verbo bolinando doces donzelas

em pesadelos atocaiados pelo otimismo



pessimismo na reflexão e otimismo na ação



Wilson Roberto Nogueira
A vida me mordeu e experimentou meu sangue; tão sem gosto que abandonou me.


Agora a morte quer transar comigo.Mas sigo sendo celibatário.Vivo na minha cela

a orar...para minha sombra a quem chamo Deus.



Wilson Roberto Nogueira

Metrópolis

Metro de São Petersburgo
Eu vendo a venda para que vejam com a alma


ninguém compra a escuridão tendo tanta lua à mão do olhar

Eu vendo a escuridão a cantar ; decantando da imagem o logro

da imagem a roubar do pensamento o don do pensar

aceita a imagem o sofrimento o gozo

mais do que o som do silêncio a implorar nas letras as idéias

do torturante imaginar.

No delírio da razão prefiro as cores do sangue pingando do sol a suar

na tela da televisão no meu bairro a rodar

a roda a moer a imagem a atropelar no cimento o oponente discernimento



Quão fácil é aceitar a verdade pura do olhar

não importa o preço ou quem venda os óculos.



Wilson Roberto Nogueira
Corre o olhar


ele não quer se deter

tanta destruição

Ainda se vale da fumaça

para não ver o desespero

agarrado na garganta

do urro rasgando o coração

de uma mãe carregando

a filha que poderia vir a ser

uma mãe e de filha

na sua velhice sua mãe

Restos cobertos

esperança estilhaçada.



Soldados tornavam-se assassinos

Estados degeneravam em terroristas

enquanto os próprios em meio às ruínas

uivavam saciados de rubra vitória.

Vitória ?


Wilson Roberto Nogueira
Palestina. 01 Janeiro de 2009
Eu cá comigo penso se sou o que penso


só leio nas letras vagabundas da rotina

a tediosa vampira sugando a última seiva

da velha árvore estéril que sonha frutos doces

de juventude. É tudo o que faz entre as brumas das eras

a droga do mormaço embasando a vista dos olhos emprestados

dos pássaros, aninhados nos buracos da memória.

Eles tem asas para voar. Ops, um ovo caiu !



Wilson Roberto Nogueira



O Sono

O coração


acorda a ação

cora

incendeia

acordapálidamas

cálidacaladapranteia

panterapresa na teia

em que tateava

presasonhava

acordada

incendiada

em marés suaves

ora violentas

violetaslentas

lentas e aindamais

sedentas

pelas rochas

encrespadas

crespasvespas

devoram

as vestes das vestais.

Wilson Roberto Nogueira
A pele tremulava estandarte de prazer


brilhava liquida lua enamorada

às mordidas apreciada dama

maré de amores.

Wilson Roberto Nogueira

Vendetta

Camisa manchada de sangue


Tremula bandeira no varal

ao sol;

aguardando a sombra pálida

da noite o coração.

Na bala ligeira ou no sorriso do facão.

A conta da terra medida

na desmedida alma do barro irmão

Sandálias herdadas pra seguir as mesmas pegadas

cegos segurando a mão das sombras pálidas

mordida de dês-razão entre a humana plantação.

Na luz a sombra se desfaz no chão e todo o dia

se enluarou de luto e em silêncio gritou:Basta!

Wilson Roberto Nogueira
Uma gota de sangue no papel
chove granizo na alma seca
lá fora só o silêncio na pele
hora de partir.

Wilson Roberto Nogueira
O que penso  não importa; repenso no remanso e na busca  morro no raso,
nada resta do pensado ,ínfimo devir natimorto;
Trôpego apego ao ego,  pé em garras tão longe das asas sonham céus que não voaram.
O destino sonda na oportunidade e só encontra vidros vazios de sonhos ,
sondas perdidas morrendo no rio.




Wilson Roberto Nogueira
Somente a sombra segreda


o que o sonho revela

na leitura do dia

em algum cofre mal fechado

da alma

no espelho do olhar.



Wilson Roberto Nogueira

Espanha

O próximo passo; avisa a pedra


é um mergulho na humildade.

Quanto mais empinado o nariz

mais atenção do solado

mais prudente o passo.

só assim se pode

arrogância.



Wilson Roberto Nogueira

domingo, outubro 31, 2010

Ela estava no supermercado e lhe perguntou se ele lembrava daquela música...


Absorto em seus pensamentos não respondeu; recordava que Anna outro dia insinuara para assistirem a uma película.Sutil convite desconversado por seu bolso vazio e orgulhoso.Puxando o carrinho conduzia para mais uma escada longe do coração dela,o qual resfriava-se à porta de saída, com um pé a sair e outro com pena de si por ter perdido tanto tempo.



Wilson Roberto Nogueira
Uma graciosa garça perdida entre gaivotas


de soslaio, bicadas na intrusa.

Outra, solitária e faminta gaivota

devora seu peixe temperando no sal do mar

seu amor por voar

longe do preconceito.

Sê bem vinda garça

mas o peixe é meu !



Wilson Roberto Nogueira
O corpo






caindo.



A dor

torcendo o



rosto do



bombeiro .





Uma mancha no asfalto.





Wilson Roberto Nogueira
Existem três tipos de vagabundos; a espécie que reportarei pode ser vista nos parques.


Aquele logo ali: um saco rasgado de estopa pleno de baratas à espera da morte, ela contudo, enojada, dele não se aproxima.Segue coberto pelo negror a esconder-se da luz ,o zumbi a escutar ,perseguido por um zumbido a suplicar em meio a algazarra de ecos de espelhos partidos à pedradas, por um cérebro ,enquanto caem mais pedras e mais sugado é sugado pelo vazio seu rosto.Resta a revolta cega por mais umas gramas de lápide anônima.a morte aguarda, o quê nem ela sabe.

"Só o sombra sabe!"

como está difícil encontrar neste pântano

alguma esperança na forma de uma flor.

sobram serpentes.

Wilson Roberto Nogueira
-Foi um tiro?


-Não, por que?

-Tarde demais, o velhinho enfartou.

-Cano de escape assassino !

-Quando não é a poluição é o terrorismo da notícia a invadir o bairro antes do criminoso ter o impulso de matar.

-Morre-se pagando antecipadamente a dívida de se morar morrendo de mêdo da cidadezinha virar metrópole.

-Prefiro assim, não pago prestação;sem previdência sou proibido de envelhecer.

-Só a sorte,sobrar esquecido da morte quão vaso bom serei pra trincar.Sabe Deus !

-Se existe, é surdo.

-Gato preto passou !

-Que felicidade na minha favela;gato mia em cima nos fios e embaixo nos becos e latas de lixo.Morre de fome ,nem espinha de sardinha encontra.Na pastelaria nem sombra.

- O chinês não tem mais pastel de carne.



Wilson Roberto Nogueira
Só a mente derruba ou levanta




só a vida tira a vida



a morte a coloca no lugar



no recomeço



tudo flui.



Está chovendo lá fora



na árvore uma forca



o passado reclama



o vento bate e as folhas...



assim é



Wilson Roberto Nogueira
Uma trama em chamas cercando de drama


a boléia das idéias ,enquanto a putinha

sobe sem ter noção se descerá.

Se alguém a verá um dia crescer livre

sem ser chamada de vadia.

Ser só uma menina e ter sonhos ainda.


E essa estrada tão curta ,não finda.


Sem flores nem guarida

êta vida pelo cão parida.



Wilson Roberto Nogueira
Noventa novenas para a névoa em forma de sombra


sobras de uma vida que dançava na tempestade

sonhando ser água pura fervendo no asfalto

marcas do silêncio no caminhar maldito da memória.

reza a estória que o fantasma sem nome alimentava-se

da fome, da guerra e da peste.Faminto de fome não passou;

da guerra bebeu todo o sangue; a peste sua assinatura nas crianças que não nasceram.



O espectro do esqueleto imortal perseguia a bruxa, a macróbia camponesa pelos campos radioativos e rios, que suplicavam água para viver.Voraz silêncio depois da chuva de metal semeando campas em aldeias- lápides

só o fogo iluminando a lua ausente ao entardecer.



Wilson Roberto Nogueira

Inquisição

Alcachofra

O alfange de chofre

corta a alga no alcool

tudo tem "al" no nome

uns nasceram árabes outra

alga alguma dá sabor ao saber

só arak com chocolate amargo

para adoçar o deserto da vida

haja tâmara na memória da miragem !



Wilson Roberto Nogueira

sábado, outubro 30, 2010

O dano na idéia tornou-se dono dos atos


explodindo a cada salto, o horizonte da paz.

Para pacificar a alma, cortaram-lhe as asas,

antes voava contra o sol,

cego de liberdade e escravo dos instintos,

agora tanto faz;



jaz.





Wilson Roberto Nogueira

A última con sorte ?

A vida dera-lhe tantos socos , que o tapete de pele de sua face


mal servia de testemunha à sua história.

As ruínas não passavam de um monturo onde pele e dentes

desertavam da palidez; a própria face fugia de si , afogava-se

nos poços negros de olhos sem espelho.

O sentimento não mais escorria, escorria apenas a baba bovina

no hálito de catacumba . Não mais a provar o néctar na seda úmida de uns lábios de mulher.

A carne já não lhe dizia, silenciara a espera dos passos balbuciantes da companheira; deitado e a incaroavel por mais uma noite lhe negara a visita.

Wilson Roberto Nogueira. A última consorte



Quando a margem esquerda do rio secar,

sonhará em mosaico

caminhos ao poente.



Wilson Roberto Nogueira

Amazoníada

I

redenção

na rede a ação

do sonho

embalado pelo mar

o navio-gaiola tristonho

a navegar.



Wilson Roberto Nogueira.

Africando Só

Vou ficando


Africando

só.

lapidando dor

para gerar diamante.

Olhos ainda brilham

perdidos nos buracos

do que foi verde um dia

Selva de pedra

carvão de gente

sofrer sorrindo

correndo a bola

esquecendo a bala

o machado achando

um braço

galho cortando

a mão invisível do mercado

exibindo a translúcidez do luxo

na mercenária colheita de corpos.

Olhos que sonham estrelas

sob o generoso céu africano

celebração de esperança

sobre o desespero vai ficando

africando só.



Wilson Roberto Nogueira .

Entre Tiros e Palavras

Se você disparar uma palavra à alguem, tenha certeza, ela chegará ao alvo. Como quem saca do coldre a pistola e atira, saiba, a bala não voltará ao cano da arma. Cuidado com as palavras ela faz nascer inimizades onde antes não haviam, ela assassina amizades.




Saque somente quando necessario, quando tiver bem nítido o alvo, não atire na penumbra, o ladrão poderá fugir e um filho teu poderá perecer pela tua própria mão. Ou palavra ferina.



Com a verborragia não se embriague, não se encante com a própria retórica catilina, agindo assim, agirá como o beberrão armado de valentia intoxicada e vazia, mata-se o inocente e faz gargalhar quem te alimenta o vicio, da bebida e da imprevidência.



Não te penses bacharel dos jargões indecifráveis para humilhar o cego que vagueia analfabeto, o humilde é nobre em sua franqueza, e, cordeiro não o imagines.



Agindo como o juíz da injustiça justiçando com o assassínio o empregado que da palavra pouca ousou te dizer NÃO, tão chão, mais quanta coragem cidadã; seguiu o destemido o valor das palavras diretas e enxutas, sem sinuosidades e sutis inferências, pobre, desconhecia o Olimpo que o silêncio, obsequioso das palavras difíceis exige. Pagou com a vida.



Embora soubesse, transpôs o muro do “você sabe com quem está falando”. O diploma marejado de doiradas palavras garante mais do que o privilégio, mais do que o berço e toda a acumulação, é em si mesmo um tesouro de poucos iniciados e assim foi no passado e será no futuro, diria algum empertigado, como no passado não sabe, um revólver não é uma parabellum com cabo de ouro ou cromo embora as duas tenham a mesma finalidade, o ouro distingue o coronel de posses mais avantajadas.



O domínio de uma língua estrangeira, o inglês preferencialmente, como o francês até um passado recente, denota poder e permite desenvolta circulação, conexões com um mundo desconhecido à massa,entretanto muitos conseguem atingir pleno grau de analfabetismo funcional em todas as línguas as quais domina.



Uma M16 produz mais resultados do que uma papo-amarelo, mas na mão de um chipanzé... O domínio do idioma pátrio forja as bases para o aprendizado das línguas, latinas, que línguas saborosas primas-irmãs da portuguesa, quão despetalada e cada vez mais cheirosa flor do Lácio mas quão pouca consideração te devotam.



Um tiro nas idéias e escorre o liquido vital,um cachorro sarnento veio beber a lembrança de seu dono que jaz(z).





Uma pro Santo. Axé.



Wilson Roberto Nogueira .1992.

Os Amantes

segunda-feira, outubro 25, 2010

A mulher no chão do terminal de ônibus;caidinha pelo sol! Ninguém despende olhar sequer.O desvelo do desfalecimento.(terá morrido?!babam curiosos enquanto cães fazem a siesta)Um carinho a impotência.Ninguém se mostra fraco diante do "arroz-de-festa" a morte.Ela bate a porta do coração e sorteia na veia da mão o destino ubíquo.Riem os manetas já paguei uma parcela !




Wilson Roberto Nogueira
Na sombra sobra poder


Na forma líquida da imagem

afoga na imaginação a coragem

afaga inflando o ego do rato

que ruge silenciosos temores

nos predadores presos às presas

da faminta angustia.

A pressa do olhar premia o vazio.

o oco do ratinho louco.



Wilson Roberto Nogueira
Estava a caminhar.


A sola apaixonou-se pelo asfalto,

grudou nele como que a beijá-lo,



e, seu dono lá de cima,pensou:



"tenho o que comer no almoço, que belo filé!"



Wilson Roberto Nogueira
Chovia lá fora e o gato até latia, como vira latas a espera de um troco de carinho; não, de teto,garantia de calor e afeto no inverno;afinal a vida é um osso um inferno.

nenhuma moeda de amor ,virou ensopado quente ,pelando !

Wilson Roberto Nogueira
Não só o seu suspiro me sustenta

a certeza da tua morte lenta
escreve legado apócrifo na lápide lamacenta.
só a sorte te sorri nesse seu passamento
sem uma única veia no corpo do sentimento.
O teu aqui jaz ,pra mim ,soa como música.



Wilson Roberto Nogueira

domingo, outubro 24, 2010

Óculos sobre a mesa.Mesa Posta.


Uma moeda na fronte do pensamento.

poeta de dois vinténs tens a vida

que te tira mais um dia.Mesa posta

de sonhos.Sombras circundam

a fome alimenta e se vai valsando

morrendo feliz.

" O prazer consome

o trabalho fortifica. "



Wilson Roberto Nogueira
Hoje eu sei;


lamento.

Quanto foi

em vão seu sofrimento.

Mas o sabor é agridoce.

Wilson Roberto Nogueira

Burocrata burgues

Caminhar entre altos prédios


preparar cada passo solene

avenidas vazias.

O poder é solitário

o simples funcionário

sai da repartição e para todos

os fantasmas atrás dos números

é um tirano ; ele sabe-se escravo.

caminha solene sobre as formigas

enquanto a sombra da repartição

bebe-lhe o sol dos dias.

prédios cinzentos almas em cinzas

o vento sopra para longe

O dever cumprido

dores nas costas

não mais.

Wilson Roberto Nogueira
Um soluço do espírito


um Mozart por um momento



surdo pelo menos ele era...

aí estava sua genialidade



aplaudia as vibrações de vida





no coração do chão do barraco

no pulmão do chão da fábrica



fabricava no silêncio cristais



de sons invisíveis.



Wilson Roberto Nogueira
O PM verificou o pente e o encontrou sem balas.Queria provar seu amor incondicional a amante.Ele a levou ao motel.Depois das preliminares,sacou a arma e disse que ia provar o quanto a amava.A bala estava na agulha.


Wilson Roberto Nogueira

Weberzug [March of the Weavers],

A Corte conta castiçais de finos cristais


Lá fora a fúria fulmina a razão.

Queremos pão!

O frio faz adormecer em canções brutais

enquanto o vento varre com neve o rubor,

a dádiva da vida.

A fome alimenta a revolução e dão agasalho ao espírito.

Serviçais não aceitam mais açoites na face

A fraternidade dos acorrentados desmontam sabres

Famílias favorecidas dentro de douradas redomas

agora quebradas, procuram pagar salvação às sombras

que saem dos esgotos;só puderam pagar o preço

de serem plantados na planície e servirem de banquete

àqueles que vivem das sobras

ricos adubos às futuras gerações

sem sonhos nem ilusões.

a opressão acabou!!

Viva a ditadura do Proletariado !!

O Conselho dos operários,camponeses e soldados a saudar o Novo Amanhecer Revolucionário !

Burocratas de todo mundo Uni-vos !!



Wilson Roberto Nogueira
A vida vale o vento no qual ela se dissipa. Nada vale a pena; a paga, o preço; não presta. A pressa opressa , insaciada despacificada fomenta o desperdício ,o despropósito de sentido para um mero quadro partido em dores de cores inconclusas gestadas na acidez de um Deus ocioso em caprichos distraído, resulta tortuoso no reto caminho e vesgo passo no destino cioso; sonho de fumaças e luzes, enquanto no cio da chuva com o vento o olor molhado do trigo triunfa na força de uma frágil mãe dando a luz no campo.




Wilson Roberto Nogueira

desentido

O filho de 22 anos do policial aposentado, foi surpreendido por uma saraivada de balas; morto por policiais. Filhos talvez de ex-colegas de seu pai. Ele, o elemento ,preparava-se para assaltar um empresário estrangeiro ,que despreocupado passeava com a amante no parque pouco iluminado. A polícia descobriu por intermédio de informante,o qual cobrara pela delação uma pedra de crack. O pai convalescente da químio aguarda para morrer.Tem pressa para inquirir o filho. Onde eu errei !




Wilson Roberto Nogueira

sábado, outubro 23, 2010

Ukiyo-E (Mundo Flutuante )

Depois da batalha

I


Em cada caveira , um vaso vela um ninho.

Em cada buraco do olho um caco de vidro

brilha com a força de um cristal. Em cada caveira,

restos de carvão sonhando diamante.

Em cada caveira um largo sorriso

faceira olha um vaso no crânio

aninha-se um passarinho à chocar

Esperança.



II

As caveiras sonham paz de porcelana quebradas por alcatéias de condenados e vulturinos homens à despojar os cadáveres de suas lembranças.



Wilson Roberto Nogueira jr
Calamidade,achei minha cara metade!uma é agora minha ; um dia já foi dela.


Agora sou só,

incompleto ente deficiente,

cego ceguei outrem para que não visse

o que eu não via.

Agora ela não desgruda de mim ;

eu dentro dela me perco e saio flácido e meio morto.

Ela era o céu e o inferno ao mesmo tempo.

Agora é mero buraco a sarjeta onde me deito.

O que eu fiz com ela !



Wilson Roberto Nogueira
Com medo do quê? Viver para sofrer; ganhar com a perda, da dor de alguém.


Quem?

Viver é morrer um pouco todos os dias .

Para que a pressa,

se é a solução, a poção mágica caindo, caindo na goela, lá, é Estar Junto!

Melhor sem ela .

Quem?

A Morte, a última consorte.

Com sorte, ela não me queira.

Só mesmo diante do túmulo de algum suicida sem sorte.

Sortilégios chovam na campa ao alvorecer !



Lençol sobre a planície negra.



Wilson Roberto Nogueira

Sombra sobre o cedro

Só uma sombra de uma folha soprada


sob a breve paz;

semente partida, ferida de esperança,

até o primeiro abraço do arame farpado.

sopra o vento sobre o silêncio.



Wilson Roberto Nogueira
A democracia é um conjunto de fascismos que se controlam ,acotovelando-se por mais espaço à mesa dos engodos .


Wilson Roberto Nogueira

quarta-feira, outubro 20, 2010

Existem tantas free-ways em Porto Rico que a ilha está presa ao carro!

Wilson Roberto Nogueira
Em casulos na tua seda úmida acoplados, percorremos o cosmos e incendiados

mergulhamos no firmamento da razão estiolante do lamento.



Wilson Roberto Nogueira
O ritmo é o silêncio.


O silêncio é a música da alma

se pensando até se ouvir

na voz enviesada da linguagem

Wilson Roberto Nogueira
Pioram as cores,


faltam-me dores.

enxergo a luz negra

na graça dos olhos seus.



Wilson Roberto Nogueira

Cidade Vigiada

na calçada um anel


enfim só

uma alma alada

ganhou a

liberdade

alçou vôo

ninguém viu

quando de dores

caiu .

Só a mesma calçada que

a recebeu fria

Segue adiante o cortejo

de ausências

Um trago de vida bêbada

encontrando no meio da rua

um anel de diAmantes...

Wilson Roberto Nogueira
Tocaram a campanhia


em companhia da solidão

naquela mansão lá fui atender

sem me ver ela foi entrando

nas entranhas a escuridão arrancou

um naco suculento de pranto

uma lâmina rasgava de vida o último lamento.

a criança enfim estava Morta.

Fome

não mais

Chagas

não mais

Dor

não mais

lembranças

não legara

Uma sombra feita carne

espectro trôpego da memória burguesa

Amanhã matarei o assassino dos meus sonhos

enquanto isso me farto de chouriço e flatos.

Wilson Roberto Nogueira
sentia-se um pinico no qual toda o clã defecara e escarrara.Hiper-down mesmo.Estressado pelo intenso trabalho na tediosa ociosidade ou a frustrada desilusão de um vegetal de pouca clorofila sob a ventania arenosa dos dias.Sob a pressão da gravidade voando na velocidade do vento na vontade sem asas vento soprando a efêmera fumaça.Soçobrando a nau das fantasias no fundo do mar repleto de cardumes de esqueletos .Sonhos,pesadelos.Sal no oceano um grão cósmico ou um ácaro gigante no carpete sujo de um quarto de cortiço na foto presa no arquivo morto da melancolia.


Wilson Roberto Nogueira
Pisca o semáforo


e os carros esperam a senhora pomba passar

passos de barquinho de penas em breve ondular

atravessa na faixa!

deixa sonhar

a poesia é criança.

Um breve piscar fugitivo

- É um assalto!

E

voaram as penas para todo lado

Ela conseguiu voar



Wilson Roberto Nogueira
Dizem que as guerras mais sangrentas são as fratricidas,as guerras civis;mas aqui ,onde crocita livre a gralha azul sob as últimas araucárias,nesta urbe leitosa de sabores inenarráveis,exalando merda no centro de sua artéria financeira,centro apodrecido que ora respira novos mofos singulares de sobejos fungos desta terra cinzenta e garoenta. Abrem a janela e vêem o sol e o calor de imensos pombais de aço e vidro,escondendo dos raios abrasadores o asfalto e a praça.

O Sol rompe aqui e ali abatendo o caminhar do industrioso curitibano burguês,tal carícia caliente não é benção ,apenas uma astúcia para melhor piorar a saúde dos curitibocas ,das saúvas uvinhas;nada como as crises de humor do clima deste canto do Paraná para entupir o nariz empinado da cidade.Quem nasceu na abençoada terra curitibana não estranha a personalidade volúvel de seu clima.

Wilson Roberto Nogueira
No seio da selva um suspiro de metralha


silenciam sonhos de uma estudante.

O que ela estava mesmo fazendo por lá?

Procurando transformar sonhos em realidade?

Quando todos bebem do mesmo sonho ele não azeda

ou vira mesmo realidade ?

No seio da floresta o fogo rasgou o verdor da inocência.

Compartilham agora seus ideais,

estendidos a alimentar jaguares,

sob as úmidas carícias da floresta das águas.



Wilson Roberto Nogueira