Alí estava aquele aluno, escarrapachado na primeira fila ;
andrajoso em suas calças puídas , a camisa amassada, os dedos querendo fugir do
maltratado chinelo, os braços tais quais galhos secos cruzados sobre o adiposo
abdome , o rosto amassado escondido sob uma roça mal cuidada com uma expressão
que misturava um olhar severo e uma cicatriz que parecia um sorriso ocultando
dentes tortos .
Passava o tempo
oculto, imerso sob os livros. Quando
lhe dirigiam a palavra respondia laconicamente , a não ser quando pediam
explicações sobre assunto que dominasse ,daí
era possuído pelo espirito de um
professor , era reputado como intelectual batizado pela massa aprendiz com a
alcunha “O Crânio “ . O crânio tinha a voz monótona de locutor de “a voz do
Brasil “, quem a ouvisse dormiria no ato tal seu poder soporífero.
O Crânio era aplicadíssimo nas aulas de humanas, passava o
tempo todo a inquirir e tecer comentários com os professores e professoras sobre
as matérias ; o programa de uma aula se estendia a três , o que irritava os
demais alunos , os quais tornavam –se conspiradores contra aquilo que supunham
ser interferência indevida no andamento normal das aulas .
Entretanto nas aulas de química e biologia o Crânio era
acometido pela doença do sono enquanto as portas do inferno se abriam nas
disciplinas de exatas onde o mesmo sentia o sofrimento e a angústia de estar
fritando nas grelhas de satanás .
Pobre alma sua existência era uma contradição e sua alcunha
ria a larga de si própria.
Wilson Roberto Nogueira . Piraí do Sul. 26/12/1995
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