segunda-feira, julho 26, 2010

Sol sem luz


Godofredo guarda em seu quarto jornais."Para pesquisas " diz ; e lá vai ele dando novas camadas às colunas de celulose; tais quais células de seu próprio corpo.Muitas já mortas,alimentam multidões de ácaros e banqueteiam tímidas e famélicas traças.
Tropeça nos próprios pés a procura de um chinelo,que lhe escapara .Desaba na cadeira a qual solta contido gemido.Diante da escrivaninha pálida ,por descuido estende página amarelada de fotos e fartos fatos deformados .Lê os testemunhos do roto espírito da época e solta um arroto enquanto polemiza consigo próprio a impropriedade do estilo e da falta de arte no manuseio da palavra,se insurgia mais contra a forma do que com o conteúdo,já é lugar comum de terra exangue falar sobre: "a sofisticação da técnica mutualizada com a anemia espiritual ".Vociferava enquanto a voz era devorada pelo fogo da falta de fôlego.
Voa uma mariposa negra contra a luz fria da lâmpada,tonta ela tenta se queimar mas não consegue..."Que paixão ! "Liga o rádio para ouvir Wagner e pocotó, pocotó.Pega um copo,desses de molho pronto e,tenta acuar a incauta voadora;caçador experiente,depois de algumas horas ,consegue e a prende no invólucro,depositando-a na escuridão das esquinas.
Volta para o quarto,encontra outro copo ,perdido num canto da escrivaninha; ali ao lado do Paraíso Perdido.Entorna e queima as vísceras.Lá pelas tantas,tonto, resolve sair sondando sonhos a procura de pesadelos e, só encontra mariposas,uma delas fora,imagina ele ,sua esposa posando nua no fundo do copo de seus olhos incendiados.
Parou no meio da rua ,sem notar que estancara;estava a delirar, procurando no caleidoscópio o que aquela figura multifacetada da memória lhe gritava.
Tal qual uma buzina de Scania.E as cores e, as cores.Todas as cores do mundo numa única e infinda planície negra.



Wilson Roberto Nogueira





Nenhum comentário: