segunda-feira, julho 26, 2010

Teias empoeiradas

No canto de um sótão o quadro coberto por um pano sujo.Labirinto de vidro onde gerações ; entre opacos espelhos trincados de lembranças ludibriadas pelas pinceladas da memória carregam cores de conveniência do coração ou do fígado,teias de aranha e pó como que a representar fino tecido no qual roedores se cobrem.


Da poeira dos dias se nutriam e em pó se convertiam após abrirem passagem na madeira de um velho baú, aconchegante mansão onde descobriram a mais fina cultura européia: livros; as imagens das fotos sequestradoras da alma do tempo- a memória, a qual voracinada até as entranhas dos novos moradores encontrou enfim ,nos pampas infindáveis do esquecimento sepultura.

Em tal continente ,onde ocultadas por sedas do passado o olho intemporal do quadro testemunhava o calor dos séculos no coração do porão ainda pulsava no sangue daquela casa : os espoucares da rebeldia na madeira que em lento prazer o sol sentia ou nas vilanias de gatos a assassinarem crias,ratos a canibalizarem filhotes na carestia.Assim eram com os Homens que lá habitaram,nas maldições silenciosas das paredes ainda que corressem crianças e se entrelassasem amantes.

Hoje o testemunho mudo de um crime no assassinato de uma época de luz e riqueza,onde os herdeiros de tantos cadáveres deitados pela história.O Sótão , a única parte inteira de tal intestina estória de uma aristocrática mansão da Belle Epoque.O tempo soprava o pó do que restara só a moldura dourada atrás da lámina de cristal os elegantes abantesmas ainda se imaginam a dançar no grande salão na eterna primavera de 1914.

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