O auge da cultura europeia – ou cultura
anglo-franco-germânica – se deu na segunda metade do século XIX, quando esta
cultura se estendeu, como modelo e norma de civilização, por todo o Globo. A
consciência deste auge – e por conseguinte de seu inevitável declínio – se
manifestou por exemplo no movimento que precedeu e preparou o simbolismo: o
decadentismo, que tem o seu nome inspirado no seguinte verso de Verlaine: “Je
suis l'Empire à la fin de la décadence”. (Outro, aliás, que se debruçou sobre
este tema foi Nietzsche.) Mesmo as vanguardas do século XX – e o apogeu dessas
vanguardas está nas duas primeiras décadas deste século – são frutos serôdios
do que desabrochou em Baudelaire, Flaubert e o ‘Salon des refusés’. A cultura
hegemônica do século XX (jazz, cinema, fast-food), o chamado século americano,
é ao mesmo tempo prolongamento, decadência e negação da civilização
oitocentista.
Ao que tudo indica, o século XXI será asiático, mas não mais
a Ásia exótica – mística, vasta e paupérrima – que fascinou os europeus do
século XIX. Mas sim uma Ásia que por conta de um século europeu e outro
americano se revestiu – e às vezes se investiu – profundamente dos valores
ocidentais, embora a base ainda permaneça quase intacta. E a América Latina?
Cabe a nós decidirmos se queremos continuar periferia de uma civilização em
declínio ou subúrbio de um mundo (embora mais antigo ainda) ascendente.
Infelizmente nossas elites se sentem europeias (ou norte-americanas), exiladas
nessas plagas incultas, e por isso temo que nos atrelem, sempre de forma
subordinada, a um universo que está no seu ocaso, sem se dar conta que o novo,
e um novo simultaneamente fascinante e assustador, vem do Oriente – assim como
o Sol.
OlW
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