O tempo não é uma linha contínua, mas um cruzamentos de
fios, uma rede que nos enreda, uma trama que nos reclama.
Num desses fios ainda sou uma criança. Olho os adultos e não
os entendo. Por que tanta pressa, tanta correria?
Em outra linha sou um ancião. Sábio. Apaziguado. No entanto,
mais ao lado, este mesmo ancião é um velho amargurado, praguejando contra a
vida que poderia ter sido e que não foi.
Em outra parte do tecido, sou um jovem -- ora afoito ora
melancólico. Conversando numa festa. Voltando para casa sozinho. Chutando
pedras no caminho.
Ali eu estou ainda nascendo. Mais adiante estou escrevendo,
concentrado, o olhar perdido. Aproximo-me para ver o que ele (eu) está
escrevendo. Ora, é este texto.
O tempo não é uma linha contínua. Mas uma rede, uma trama,
um sudário. Como um texto. Como este texto.
Otto Leopoldo Winck
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