quinta-feira, agosto 13, 2020

 

O tempo não é uma linha contínua, mas um cruzamentos de fios, uma rede que nos enreda, uma trama que nos reclama.

 

Num desses fios ainda sou uma criança. Olho os adultos e não os entendo. Por que tanta pressa, tanta correria?

 

Em outra linha sou um ancião. Sábio. Apaziguado. No entanto, mais ao lado, este mesmo ancião é um velho amargurado, praguejando contra a vida que poderia ter sido e que não foi.

 

Em outra parte do tecido, sou um jovem -- ora afoito ora melancólico. Conversando numa festa. Voltando para casa sozinho. Chutando pedras no caminho.

 

Ali eu estou ainda nascendo. Mais adiante estou escrevendo, concentrado, o olhar perdido. Aproximo-me para ver o que ele (eu) está escrevendo. Ora, é este texto.

 

O tempo não é uma linha contínua. Mas uma rede, uma trama, um sudário. Como um texto. Como este texto.

 

Otto Leopoldo Winck

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