domingo, setembro 06, 2015

Pichação e grafite


 A pichação nos anos noventa do século xx representava a demarcação de territórios, disputas delimitadas por assinaturas .

A pichação é para seus praticantes a verdadeira representação simbólica da marginalidade, desafiando os muros da cidade- a propriedade privada  e os símbolos da ordem constituída, os obstáculos do sistema .Acreditarão ser libertários anarquistas ou só  zoam  a repressão ; provando  o quanto superiores são sobre o ego adversário .Agirão movidos pela adrenalina ao escalarem os mais altos prédios deixando o resíduo , o subproduto de sua ação ?

Ao mesmo tempo individualista e autópica  passaram a se organizar em grupos onde reafirmam as individualidades , a competição . Não existem fronteiras éticas, violam outras expressões de arte urbana ,outros símbolos estéticos e políticos ,não respeitam o grafiti por ser uma arte reconhecida pelo mercado da arte e legitimada pela classe média e alta.As obras dos grafiteiros mais elaboradas passaram a ser alvo dos pichadores , embora a conscientização esteja atingindo as sombras e fazendo delas luzes de cores e significado para além da mera urina de tinta. A  pichação passa a ser para alguns as primeiras pedras de suas obras na busca de refletir um meio mais sofisticado de expressão e cuja mensagem atinge a consciência urbana fixando melhor na memória a cicatriz da revolta  para além da vontade o talento cultivado nas quebradas da vida.Um papo mais reto, na moral.

Parece mesmo não haver por parte do pichador interesse em denunciar concreta e esteticamente o sistema para conscientizar os excluídos para o seu discurso; cujo interesse é reafirmar  a negação pela negação a toda obra que pareça elaborada ,pensada, sofisticada. Isso é contracultura ou a  pulsão tanática de voluntarismos patológico incapazes de articular um discurso estético se limitando a grunhidos na direção que supostamente representam – os marginalizados-ou essas pessoas representam  só os seus egos  ?

A própria situação de classe dos integrantes colocam a questão a descoberto. São atletas do ócio , com muito vento e sem bússola ,sem nenhum mapa de estrelas a mostrar um norte .Vivendo a ansiedade do nada até escalar o mais alto pico da futilidade para que um dia eles próprios se tornem a assinatura de sua maior obra em alguma cicatriz sebosa   da cidade. Imaginando Viverem um presente continuo de tempestade e ímpeto incensam a barbárie .

Por outro lado a arte de rua Grafite também sofria a repulsa da sociedade, da classe média, era outsider, underground mas atualmente  artistas como Os gêmeos , JR, Banksy já pertencem as artes reconhecidas pelo mainstream , embora denunciem as mazelas sociais ou deem ao cinza do concreto, ao branco do mármore rostos, paisagens urbanas alternativas . Não, a pichação não está interessada nessa forma de reconhecimento, ela é a pletora a marcar , a julgar a arte, os movimentos, as instituições do alto de sua” marginalidade autêntica “ ou que simbolizam o poder da exclusão e da segregação social.

Nunca os não pichadores entenderão se essa manifestação de agressão e protesto anônimo e secreto mas perfeitamente legível para os grupos de vândalos fabricantes de vazios estéticos . A pichação será  certamente a contracultura do século XXI, tatuagens no corpo repleto de cicatrizes da Babilônia do deus consumo.

Wilson Roberto Nogueira



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