A pichação nos anos noventa do século xx representava a
demarcação de territórios, disputas delimitadas por assinaturas .
A pichação é para seus praticantes a verdadeira
representação simbólica da marginalidade, desafiando os muros da cidade- a
propriedade privada e os símbolos da ordem
constituída, os obstáculos do sistema .Acreditarão ser libertários anarquistas
ou só zoam a repressão ; provando o quanto superiores são sobre o ego adversário
.Agirão movidos pela adrenalina ao escalarem os mais altos prédios deixando o resíduo
, o subproduto de sua ação ?
Ao mesmo tempo individualista e autópica passaram a se organizar em grupos onde
reafirmam as individualidades , a competição . Não existem fronteiras éticas,
violam outras expressões de arte urbana ,outros símbolos estéticos e políticos ,não
respeitam o grafiti por ser uma arte reconhecida pelo mercado da arte e
legitimada pela classe média e alta.As obras dos grafiteiros mais elaboradas
passaram a ser alvo dos pichadores , embora a conscientização esteja atingindo
as sombras e fazendo delas luzes de cores e significado para além da mera urina
de tinta. A pichação passa a ser para
alguns as primeiras pedras de suas obras na busca de refletir um meio mais
sofisticado de expressão e cuja mensagem atinge a consciência urbana fixando
melhor na memória a cicatriz da revolta para
além da vontade o talento cultivado nas quebradas da vida.Um papo mais reto, na
moral.
Parece mesmo não haver por parte do pichador interesse em
denunciar concreta e esteticamente o sistema para conscientizar os excluídos para
o seu discurso; cujo interesse é reafirmar a negação pela negação a toda obra que pareça
elaborada ,pensada, sofisticada. Isso é contracultura ou a pulsão tanática de voluntarismos patológico incapazes
de articular um discurso estético se limitando a grunhidos na direção que
supostamente representam – os marginalizados-ou essas pessoas representam só os seus egos ?
A própria situação de classe dos integrantes colocam a
questão a descoberto. São atletas do ócio , com muito vento e sem bússola ,sem
nenhum mapa de estrelas a mostrar um norte .Vivendo a ansiedade do nada até
escalar o mais alto pico da futilidade para que um dia eles próprios se tornem
a assinatura de sua maior obra em alguma cicatriz sebosa da
cidade. Imaginando Viverem um presente continuo de tempestade e ímpeto incensam
a barbárie .
Por outro lado a arte de rua Grafite também sofria a repulsa
da sociedade, da classe média, era outsider, underground mas atualmente artistas como Os gêmeos , JR, Banksy já
pertencem as artes reconhecidas pelo mainstream , embora denunciem as mazelas
sociais ou deem ao cinza do concreto, ao branco do mármore rostos, paisagens
urbanas alternativas . Não, a pichação não está interessada nessa forma de
reconhecimento, ela é a pletora a marcar , a julgar a arte, os movimentos, as
instituições do alto de sua” marginalidade autêntica “ ou que simbolizam o
poder da exclusão e da segregação social.
Nunca os não pichadores entenderão se essa manifestação de
agressão e protesto anônimo e secreto mas perfeitamente legível para os grupos
de vândalos fabricantes de vazios estéticos . A pichação será certamente a contracultura do século XXI,
tatuagens no corpo repleto de cicatrizes da Babilônia do deus consumo.
Wilson Roberto Nogueira
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