segunda-feira, julho 19, 2010

Pó sobre a estante

Todas as noites ele voltava para aquele mesmo quarto de pensão a reencontrar os móveis velhos e os livros gastos; os jornais carcomidos por notícias de novas notícias velhas, que se repetiam nos telejornais - no estuário da ilusão.


Deitava-se na prisão dos seus sonhos sem luzes, sua cama de colchão mofado e travesseiro babado de salivas de um idioma de sonhos em pedaços a exalar o enfado de seus faroníricos sem poesias - só a ilusão do pó de seus dias.

Levantava-se sempre com o coração soterrado por correntes de aço, as quais não mais sentia, acostumara-se a elas ao peso do barulho ao caminhar.

Ao caminhar molhava a testa enrugada com a água salôbra de sua existência.

Não clamava pela fragorosa flagrância da derrota dos exércitos de pano, diante do fogo de ideais de incêndio nas batalhas dos dias de juventude, que duraram tantos minutos de poeira soprados com o mau- hálito da escória da memória, a escorrer pegajosa no olho da janela.

Tão opaca que a menina morena dos seus olhos, cega, não vira o sol que lhe sorria, e beijava-lhe com uma piscadela para vê-lo uma vez mais a bailar.

Wilson Roberto Nogueira

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