sábado, agosto 28, 2010

Alforria canina

Está ali como sempre, veja... o cão guardando o mendigo que, de tão bêbado foi dar uma visitinha à comadre de preto. Fica-se por lá; saco de baratas. E o cão ali, rosnando para quem chega-se muito perto daquele que, ao acordar, como gratidão lhe chutaria ou lhe jogaria algum pedregulho. Aquele fidelíssimo protetor não sabia que seu dono, várias vezes sonhara que preparava um ensopado com sua carne. Nesses dias ele parava de chutá-lo e dava-lhe as melhores partes dos restos que encontrava no aterro. Até que um dia foi beber água do riozinho moribundo e teve um troço, não deve ter sido a água de cor de uísque envelhecido doze anos e com gosto de puta que não pode se aposentar. Todas as suas pústulas acordaram em prantos pútridos. Caiu babando sabão Omo ou sabe-se lá o quê. E o cão depois de tantos anos chegou-se a ele, levantou com esforço uma das patas e irrigou o rosto do dono.




Wilson Roberto Nogueira



Nenhum comentário: