terça-feira, agosto 03, 2010

ladram os ladrões de amanheceres.

Com a faca nas mãos, ajoelhada sobre as pedras ela arrancava,desde a raiz as ervas-daninhas.Uma senhora de setenta anos.Por horas,pedra por pedra,prosseguia enquanto seus olhos corriam entre os girassóis.
Pedras que calçavam o acesso a sua casa ,construída por seu marido e também por suas mãos,mãos de camponesa,de imigrante;a rainha da casa com seu lenço à cabeça a guisa de coroa.
Enquanto o príncipe descia duas quadras antes de chegar na casa para,que seus colegas de escola não o "obrigassem" a mentir ,dizer que aquela senhora era "sua criada".
O céu estava rubro e "a ética dos intestinos " cobrava a taxa dos saborosos pastelões e cucas da "vovozinha".Naqueles domínios olhava por sobre os ombros ,no espelho das máscaras entre os vapores dourados da estufa da classe dos bem nascidos,o qual aquela senhora dos olhos de criança jamais do campo saíra.
A noite descera com seus sortilégios.Hora de dormir,hora de orar,ao pé da cama;com toda leveza de uma alma que desertara de seu corpo, o menino repetia as palavras que sangravam de tanta fé na trôpega pronúncia daquela imigrante sua avó.
Recebeu com um sorriso mecânico o beijo da boa velhinha,dormiu,quando acordou,despertou daquela nuvem o deserto da sua vida ,o mármore diante daquela laje que lhe servia ,naquela noite,de leito e a seu lado a olhá-lo como um irmão um cão zarolho.

Wilson Roberto Nogueira

Nenhum comentário: