quarta-feira, dezembro 24, 2008
Homenagem ao Madeira e ao Túllio
Olhar Vítreo
e não encontro mais o brilho da chama.
Olho e vejo no olho de Kalimisos
a imansidão negra do precipício.
Onde estará aquela criança que sorria
o sorriso da alma no olhar?
Que nadava nas águas de um amor pura chama?
Águas secaram chamas se apagaram.
Sal e fumaça, um eco de um corpo
sem vísceras, sem viço, sem vida.
Estará viva na vida que a violentou?
Restos rasgados de um olhar de penumbra
num cântico de mortalha,
espírito partido do olhar estilhaçado,
cacos de vida.
Amor para quê, qual a razão?
Não existe razão ou significado
Dor compartilhada,
comer da mesma solidão,
lamber as cicatrizes sem nojo.
Ver no outro olhar uma lagoa
refletindo o vidro opaco de sua existência.
Nada, um imenso nada,
vidro na água invisível de si.
Olho dentro do precipício e não a vejo.
Não adianta tatear na escuridão de seu olhar
qualquer sinal de Kalimisos.
Wilson R. Nogueira
beijada pelo sol virou mel
que à noite, quando a viu,
sentiu as cores de seu doce perfume
e a comeu.
No útero da noite,
estrelas sonham crianças negras correndo;
e seus sorrisos iluminam as trevas.
Voavam esperanças
como plumas na tempestade
sobre rubros rios em fúria.
Wilson Roberto Nogueira
terça-feira, dezembro 23, 2008
Cultura não é Mercadoria
Wilson Roberto Nogueira
sudores
O homem feito bicho à disputar com urubus restos de um gambá, ou algo parecido agasalhado com o verde fosforecente de frenéticas varejeiras e uma tonta môsca azul que jamais picara alguém de sorte.
Faltara o olho Salgado, olho mágico na porta daquela mansão ao ar livre de verbo e verve.
Wilson Roberto Nogueira
Visibilidade Zero
à luz da lâmpada de 60
velas Gritou:
"Chega de realidade!"
Os homens não podem suportar muita realidade.
Os poetas,
nem mesmo a pouca,
que o amor lhes oferece."
Háris Vlavlianos.
o bravo peixe sonhador
penas que brilham ao sol,
como cristais simples escamas.
Simples delírio de um deus
pensando pescar nos olhos frios do peixe
as estrelas ocultas do mar.
O peixe de tanto fugir da fome do golfinho,
vôou, vôou tanto que esqueceu que era um peixe.
Em Kagoshima um fotógrafo sequestrou a alma do movimento.
Um peixe nadando no ar.
Wilson Roberto Nogueira
sexta-feira, dezembro 19, 2008
Passarela dos 90
é a moda
ela está morta ?
não
está só
cabide de ilusão
só desfilando
no desfiladeiro
de seu olhar
um mero cabide humano.
Wilson Roberto Nogueira
quarta-feira, dezembro 17, 2008
terça-feira, dezembro 16, 2008
Wilson Roberto Nogueira
sexta-feira, dezembro 12, 2008
terça-feira, dezembro 09, 2008
segunda-feira, dezembro 08, 2008
beijada pelo sol virou mel
que a noite quando a viu
sentiu as cores de seu doce perfume
e a comeu.
no útero da noite estrelas sonham
crianças negras correndo
e seus sorrisos iluminavam as trevas
voavam esperanças como plumas na tempestade
sobre rubros rios em fúria...
Wilson Roberto Nogueira
A ´´Ultima Consorte
mal servia de testemunha à sua história.
As ruínas não passavam de um monturo onde pele e dentes
desertavam da pálidez; a própria face fugia de si , afogava-se
nos poços negros de olhos sem espelho.
O sentimento não mais escorria, escorria apenas a baba bovina
no hálito de catacumba . Não mais a provar o néctar na seda úmida de uns lábios de mulher.
A carne já não lhe dizia, silenciara a espera dos passos balbuciantes da companheira; deitado e a incaroavel por mais uma noite lhe negara a visita.
Wilson Roberto Nogueira
terça-feira, dezembro 02, 2008
Vida placebo
A tua persona é manufatura coletiva.
Bebo a bebida ou a bebida me bebe o fígado?
Fumo ou a fumaça fuma-me os pulmões?
Embriagado na ilusão da imagem distorcida,
perdida na fumaça do prazer fugaz - Quem tu és diante do espelho?
máscara de cêra da sociedade seletiva. Civilização do disfarce
Pasteurizada estória insípida água sensata do senso comum
de mentiras repetidas paridas de bom-senso burguês.
Feliz fumaça da urbe insolente indolentemente deitada em suas certezas
doente de dogmas amassados pão-velho.
Pro pobre não tem não Só o sermão neoliberal Burguês
bebido pela bebida dos dias cinzas
Feliz pastando na mediocridade
civilização em coma
fumando a fumaça dos escapamentos e expulsando fumantes
assassinos
Feliz espelho das ilusões onde repousam todas as máscaras.
Wilson Roberto Nogueira
Enumeração de um dia qualquer
Wilson Roberto Nogueira
segunda-feira, dezembro 01, 2008
Wilson Roberto Nogueira
domingo, novembro 30, 2008
sexta-feira, novembro 28, 2008
O meu coração não está engasgado.Talvez dormindo ou , morreu.
Não está em julgamento a ausência de sentimento, essa máscara de grosso pano
que não me deixa respirar. Não consigo ver a luz das pessoas. Nada leio em seus rostos;sequer na lousa da minha irmã. Mas prossigo assim mesmo como um bêbado na escuridão , espero. Bem da verdade não ligo se causa dano o oco da minha alma .
Mas por que o silêncio da madrugada me dilacera o ouvido?
quinta-feira, novembro 27, 2008
Ouves veladas súplicas América Profunda
entre árvores de frutos negros e templos
em viva chama
iluminando a escuridão como cruzes
incendiadas de ódios
sombras de serpentes entre o algodão
no coração sangrando do Velho Sul.
A esperança tinha um sonho
que fora abortado por um tiro medonho
o sol despontou do pesadêlo(?)
da luta entre irmãos
enfim sangue negro,branco são
de uma única raça
a Humana.
Áquela luz de esperança nos céus da América
será de um cometa , estrela cadente no decadente
céu da intolerância.
Ameaças rugem das vísceras da América Profunda .
Dezenas de americanos proibidos de sonhar
o American Dream do American Way of live.
Outros milhões embaixo do tapete das prisões
vivendo o pesadêlo enquanto o Capitalismo de Apadrinhados
e seus frutos doces de trilhões de dólares
alimentam cada vez menos bôcas .
Enquanto a América
se arremessa em aventuras militaristas
que sugam a seiva de sua falida economia
Que aliéns sustentem pagando as irresponsabilidades.
A guerra é um negócio;um empreendimento terceirizado
privatizado de Estados-Corporações corsárias.
A bandeira moral da América é exportada na boca de seus canhões
nas bombas que debulham as cidades estrangeiras
é a força dos seus torturadores em seu campo de concentração
A superioridade moral da civilização ocidental está cristalizada nos
corações e mentes de todos os povos do esgoto imundo.Ops
do Terceiro Mundo.
A liberdade imposta pelos coturnos das tropas de ocupação
A sede de sangue ,a ganância ,a vileza...
Change América
Now!
Será que um filho do stablishment renegará aos seus?
Progressista ou "Liberal " o discurso derrubará os muros
dos sólidos interesses do Petróleo, do Complexo militar indústrial, de Wall-Street?
Change America !
Wilson Roberto Nogueira
terça-feira, novembro 25, 2008
Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres.
Uma em cada três mulheres é alvo de violência na sua vida.
veja o video:
Andréa Motta
Na penumbra da cidade
brilho de lantejoulas
seios desnudos
lábios pintados de carmim
no corpo lanhado
tatuadas as marcas do desamor
hematomas
carne rasgada
alma amargurada
Delitos, impunidade e dor,
violência doméstica
violência urbana
de menina amedrontada
não há lágrimas nem sorrisos.
Só um silencioso pedido de socorro
entre sonhos adormecidos.
Sombras escamoteiam o medo.
No desenho da calçada
Rostos anônimos
gigolôs, prostitutas
sofismam pelos cruzamentos
escandalizando crentes
na solitude noturna
conspiram versos desencantados
num pacto com o diabo
leva sem remorsos
o silêncio da noite, as escoriações
os hematomas, as mãos vazias
a dança do neon..
por um instante,
insinua-se nos olhares castigados
suavizando-os.
onde pouse o olhar
não importa
a identidade
nem o coração partido
Não importa
a desventura
nem as portas fechadas.
Incitando à liberdade!
quando cada um segue o seu destino.
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sábado, novembro 22, 2008
sexta-feira, novembro 21, 2008
Diálogo ao Pé da Cova
Wilson Nogueira
sopra para longe a solidão
uma breve brisa
do teu perfume insere na lembrança
a melodia do mar. Amor de maré,
amor sem esperar
vida à deriva nas planícies do luar.
No teu olar outros mundos
Ama de esfinge à dançar
no fio da lâmina.
O sopro no último alento
além do sofrimento
sofrer é tão banal quanto amar;
morrer e ressussitar ,é sónho ou
é pesadêlo,dor de cotovelo
Hormônios anarquistas , sejam racionais,
mantenham a ordem e obedeçam ao cérebro !
Amor é só um sôpro em chamas à iluminar efemérides do coração.
Confundir Amor e paixão
é deixar cair a alça do caixão
Quem morreu primeiro?
O pão nosso sólido de sal moura doce
serenata serena.
Bombom é bom se for de chocolate e tapeia.
Wilson Roberto Nogueira
terça-feira, novembro 18, 2008
Inseto Âmbar
MOSQUITO SONHA QUE É PEDRA
SONHO SONÂMBULO
PARTÍCULA DE ETERNIDADE
INSETO ÉTER A PICAR AS ERAS
ELE ZUMBE A BULINAR O SONO
QUE FOGE E SE PERDE
PERDE-SE NA PEDRA
PEDREIRA PEDRARIA
DE CASCALHOS EM CASCATASSS
SONO QUER SONHAR
QUE NA MORTE VIVE OUTRA ALMA
NO COÁGULO DA IDÉIA
MAS O SANGUE DO SONO
O INSETO SUGA
OS MOSQUITOS SÃO ETERNOS
ETERNAS LABAREDAS DE FEBRE
NAS SELVAS DO TEMPO.
WILSON ROBERTO NOGUEIRA
O Bodum
Wilson Roberto Nogueira
sexta-feira, novembro 14, 2008
Hospedagem
As touradas nos bailes da morte com as mortalhas de aço dos autos embriagados de álcool e gozoza morgue onde cantam os poetas tortos "sem musas nem deuses" mas também sem adeuses só olás de lama meta física.
Wilson Roberto Nogueira
Wilson Roberto Nogueira
Papel de Pária
A noite abre a janela para a paz.
Uma garota entra á procura de sexo.
Um resto humano rouba um bagulho
nada te moe tanto
quanto as mordidas dos ratos a te lembrar
de tomar um teco.
(Voltaria para meu Sertão
um dia...
pensei que seria...
de avião. )
Esse dia
está entre as nuvens em meio aos tiros
e aos clarões das batidas de RAP do meu coração.
(Lá longe ouço um carro de boi...
FUI.
a vida não mais me pertence.
{Viaduto Ludge. Catador dorme em uma fresta , na divisória de cimento que separa duas vias} Wilson Roberto Nogueira
quinta-feira, novembro 13, 2008
A Dança das Bruxas
O samurai abriu uma fenda flamejante
no espírito com facas Guinzo,
Um jato de sangue a cada lambida
do aço das críticas. O olor nauseabundo
do ente etéreo,
fumegando podre,
E logo ali, as bruxas dançando
no Sabath em torno da fogueira,
voaram alto contra a lua
e as trevas,
se povoaram com suas gargalhadas.
Voaram,
voaram sobre o Monte Calvo,
o fogo-fátuo do falso fantasma.
Vida enfim,
vida Ranascendo enfim,
renascendo.
Com o beijo frio de adeus da lua,
um ciclo se finou.
É preciso morrer
para que a partir dela,
da morte,
a vida
ressurja.
Kolodycz Blur
pedra drama matriz
daquela palavra ígnea
uma lava gerada na dor
a devor ar de incêndios
a lava do verbo.
Wilson Roberto Nogueira
Wilson Roberto Nogueira
cisco
um cisco
soprado
voando livre
pelo prado.
Arde a liberdade
efêmera
no céu infindo
a olhar
esperando
a quem o grão
de pó travará
contato.
Wilson Roberto Nogueira
quinta-feira, novembro 06, 2008
quarta-feira, novembro 05, 2008
Memória do cadáver
Pressa...pressa e os minutos a escorrer ,pingando sangue do nariz;olhos secos.Nada dói tanto quanto o tédio.Os urros do silêncio das pastosas horas diante da caixa de vozes estéreis e imagens nulas a sugar o sumo do cérebro,fazendo brotar, verdes sinistros apodrecimentos na lente entorpecida da memória . Acorrentado à gravidade da cama,serena sepultura que chama para o sono sem sonhos ,um cálice de morte sabor de miséria e derrota.
"Cirenes soam lá fora!"
"É só a polícia."
"Tiros!"
"É só mais um assassinato".
Nada tem valor para ser guardado para quem não é ninguém.Pelo menos os vermes e as baratas discordam.Presume-se.Um prato saboroso na sepultura,madeira podre sem ser de lei.também,nunca obedecera a norma nenhuma, a nenhuma ética.Só a etílica.Bom,não precisou de formol.
(Está exposto no Museu Schadenfreudeutsch de Arte Moderna,plastificado por algum artista pós-moderno da pós-arte ou pós-qualquer coisa.O rosto e as entranhas. A propósito o ingresso custa 30 Euros,serve uma romena )
Wilson Roberto Nogueira
Chuns
sem a bata,nú !
Não me bata
Talvez eu goze
ou não?
enxergue-se anão!
Tem quem goste!
O poste do João?
Sei não,...sei não
Só no Ceilão o suor é doce se você é amaro.
Surrupiando do sol a luz para cegar as trevas dos anzóis dos teus faróis
olhos espectrais atrás de nuvens nuas
vestes das almas vestais
Mas só um cadáver sem a bata.
Pode bater
ninguém vai entrar.
Suspira o sono da televisão solitária
Só um sexo em tecnicolor
sob os reclames da touca :
" sono leve,ela vela por você"
a caverna ,onde espíritos vadios se hospedavam-De quando em vez.
Só soprava um vento cor tante a navalhar a língua pajem a traduzir signos de tempestades ou era o eco das eras na fúria represada da loucura a cara carcaça sã da caverna da caveira.
Wilson Roberto Nogueira
quinta-feira, outubro 30, 2008
na face oculta por um brilho opaco
diante de um espelho partido onde
escorre a tinta sangüinea do pesadêlo.
O vento bate à porta que reage rangendo
maldições só por instantes
tossindo crepitam corvos em carvalhos sêcos.
Outra foto que fala ao coração das trevas,
na névoa da manhã sombras asombram
assanhando sonhos de insandecidos bruxuleios
caminham casais entre as lápides.
Só o sonho de uma foto que se incendeia
furando a mortalha de estrelas.
A efêmera fogueira que copula com a esperança
num poema que sangra no silente cio.
Wilson Roberto Nogueira
O Sonho da Sombra
Wilson Roberto Nogueira
Sobras
veias assinam o teu caminhar
a viagem sanguinea arde
mas não é uma demi-morta o viajar
é transplantar o hálito doutra alma
no amar dançando na incerteza .
Wilson Roberto Nogueira
Semeador de Sementes de Serpentes
A Guerra a gargalhar ,a miséria mãe da Fome a bajular da Guerra a dádiva O ouro negro, o poder a opressão a oração ao bom Deus do democrático e abençoado direito de matar e oprimir em seu Nome.
Um brinde à insanidade dos governos e seus opositores e a gente simples que recolhe seus pedaços.
Wilson Roberto Nogueira
quarta-feira, outubro 29, 2008
Cortei a corda.Botei minha Verdade no papel
Quando nasce como todas, qualquer pessoa,
Vem ligada a alguém, para ter cortado o cordão,
Deveria na seqüência privilegiada, sentir-se livre,
Para a nada ou coisa alguma, nunca mais se prender.
Mas há uma voz muda que na consciência ecoa,
Fazendo que em grupo seja ouvido o bordão,
"Sem direito a vida, a liberdade se prive",
E em tempo de vivência, aprisione o Ser.
Existem pessoas que inventam umbigos outros,
E se dão a enfrentamentos que nada trazem,
Espelham-se em imagens que pensam tê-las,
Sentindo o frio ..., delicioso, e sem ler as entrelinhas.
Pensam prazeres, mas vivem ilusão atroz,
Assim seguem ..., e para mudar nada fazem,
E ao invés de alçarem-se livre, às estrelas,
Rumo ao chão, sentem-se pequenininhas.
Pois o ser que quando se sabe livre ..., voa,
Só fica preso pelo humano, como marionetes,
Amarradas sem vida, mas com movimentos,
E quando volta a lida, é para o mundo caduco.
Pois aquele grito mudo, no ouvido ainda ecoa,
E ficam as pessoas secas de lágrimas como se inertes,
Em medos e máscaras que não mostram sentimentos,
Ajudando o semelhante, a permanecer maluco.
Assim essas pessoas mantenhem-se a nada incorporadas,
Pensam-se almas unidas no fundo dos abismos,
Excluem-se depois de cada coisa que foi usada,
E permanecem assim para sempre, gêmeas do nada.
Corte a corda ..., e ponha a sua verdade no papel.
Olinto Simões
terça-feira, outubro 21, 2008
merde
velha cidade feliz
entre os vales
entre os olhares
ao sabor dos cafés
mesmo sem cafunés
seus carinhos na vaidade
irradiam de luz o rosto da atriz.
Wilson Roberto Nogueira
corre a corrida enfarpelada,
faixa por feiche enquanto a
música do tempo não para.
Em cada ferida endoidecida
na epiderme da palavra
uma nova canção jogada fora
da estrada descaminhada
alados fiapos perdidos
libertos para onde ?
fogem do faminto horizonte
horrível multifronte
a agulha amputa a melodia
sub verte o sentimento na desatinação
do desalinho
Ela olha o olho do espelho espera na luz
a menina brilhar enquanto a radiola insiste
em desafiar a agulha que risca na carreira o mel do dia
Ela olha no olho do espelho que a lê menina nos sonhos
da garoa ,o vidro chora ou é a garoa la fora.
a agulha não tem nada ver com isso risca uma nova canção
Ela não ouve mais o coração dormiu
miou o gato e partiu .
Wilson Roberto Nogueira
ê
quarta-feira, outubro 15, 2008
semente de tocaia
assentando o chão sobre a palavra da palavra
cerrada
dentro do grito da semente ausente centelha
naquele paredão deitado no árido mar do sertão
uma cova rasa calada no anônimato
Uma flechada de fogo perfurou o pulmão
da escrava condição parelha
a moeda mordida ,ouro de tolo
da dignidade exigida
o Cão no papo amarelo descansando à sombra
a espera da vassoura parar de varrer o pó
do pó da terra o pó humano aD'us
o pó sobre o pó do jarro quebrado a sonhar
que o dinheiro é liberdade e o povo não é gado
nem aqui nem na cidade
com os cobres o cobertor é quente no inferno.
Wilson Roberto Nogueira
sexta-feira, outubro 10, 2008
domovoi
que dança no crepitar da lenha,
e se vê ela própria a dançar
de mãos dadas com as chamas do imaginar.
Ela sorri enquanto atira
para animar o baile das labaredas
mais mirrados gravetos.
Mas a festa acabou
quando
a mãe a agarrou
e para longe da lareira
a levou.Protegendo-a
dos diabos ocultos nos fogos dos lares
habitantes das lareiras e fogueiras
esperando por uma mãozinha de criança pro jantar.
A mãe se persignou e diante do Sagrado Ícone orou.
Lá fora o vento cantava uma melodia para a alcatéia
sonhar que estava saciada de sua milenar fome.
Mais uma noite sob o cobertor cinza.
Wilson Roberto Nogueira
quarta-feira, outubro 08, 2008
Traças e Lagartixas
Embora elas amem as palavras, as devoram, como umas "alfacinhas" , qual lisboetas da Alfama.
As pessoas só se ocupam delas quando encontram caminhos indesejáveis e "buracos negros " naquele livro tão precioso. Viva os e-books e notebooks ! ? Existem formigas que apreciam o "tempero " dos conduítes e chips.
Quanto aos meus bolsos...
Há muito tempo que elas comeram o fundo dos meus bolsos. Bom, eu nunca tive fundos para depositar, mesmo no raso dos bolsilhos.
Famintas essas leitoras de Flaubert, as vezes flertando com Dostoievsky.Elas não recusam as saborosas letras imortais.Gostavam de nanquim agora qualquer tinta fast-food made in China está servindo.
Naftalina!? Não! Sou contra toda forma de genocídio,não mato uma mosca,quanto mais uma aplicada traça burocrata. Ela só quer um papel,um pano ou uma célula morta,Não é muito.
Até a visita da lagartixa. Agora os passos, os traços da traça estão mudos. Nenhum mistério novo na página do romance, nenhum caminho de ausências nos panos e nos papéis. A fome ficou ágrafa.
A lagartixa fica ali, com sua presença verde mas quando precisa e lhe apetece fica da cor da parede,principalmente quando namora,mas na maior parte do tempo,fica lá no teto,muda, lagarteando perto da lâmpada dando uma de "João Sem- Braço" para comer uma incauta mariposa.Olha para baixo curiosa com as humanas insanidades do escrivinhador, agora sem suas fiéis leitoras, as traças, assassinadas pela sanha insaciável da nova moradora, a qual não lê mas filosofa num estilo... meio zen... meio existencialista,uma observadora do cotidiano...
Wilson Roberto Nogueira
e no meio da travessia do
delírio cai em mim.
esmagado gozei gazes de
páprika
Cadente como um cometa
riscando arrisquei
o céu prenunciando no prepúcio
da decadência
a ejaculaçõa precoce da abundancia
inútil da esperança
O desespero das asas que perderam os braços
E só os lençóis soluçando viúvas tão tenras
na areia doce de suas pêras.
Para escrever mnha estória na sêda de seu corpo
não logrei legar sequer uma letra sem rasgá-la
na fibra mais delicada de seu perfume.
Wilson Roberto Nogueira
encontro de perdidos
Um risco traçando na noite até o ponto final sob o olhar de prata.A única testemunha a lua,
silenciosa amante,velando a última chama no hálito do último beijo.Não há vagas no necrotério-só valas a céu aberto-,mesmo morto continua um sem-teto; aguarda-se que encontre condução,contudo a mercadoria espera.Não tem valor.Não tem fígado,não tem rins,coração imenso-tudo devorado."Caíra a casa " do malandro ( ?) (desde sempre).E quem o encontrou na última esquina do último bar: uma bela bala perdida de uma máquina gringa da mão de um "soldado"de dez anos que atirou para impressionar uma gostosa "cachorra" .
Chove em fim batizando de cachaça e cocaína o esgoto da Babilonia.
Wilson Roberto Nogueira
quinta-feira, outubro 02, 2008
Voce
apesar de minha solidez aflitiva
filho de todas as razias
eu que por mais um pouco seria invisível
que saio de casa para entrar no mundo
que enxergo, como henrika,
peixes nas poças de chuva
eu que sou um franciscano brutal
que alimento os pombos com parafusos
um relógio onde o tempo se estraga
que nunca superei as drogas
que não venci aquela paixão
que não posso ver uma mesa de cartas
eu que como papel entre
tragos de tinta
que tenho a chave para as praças da cidade
eu que bebo com os cavalos as águas estigiais
que oxido a lua de urina
que construí escadas que vão dar no teto – como
madame winchester –
que inventei janelas inacessíveis
construí mansardas sem alicerces
na mudança meus fantasmas
e uma mitologia de cães cegos
eu que sou esta florescência de miasmas
cuja alegria é uma careta
cujo sangue é de auroras
cujos ossos são de tijolos e a alma
de querosene
meu sonho será apodrecer
exalando música
eu que guardo uma gaivota na traquéia
que tenho cabelos no coração
e rins de diamante
que saio pelas ruas, charanga de calúnias
que vadio as estrelas
que desconfio dos poderes sobrenaturais
da linguagem
e ainda assim digo, grito desesperadamente as coisas
como arrastado por um desacampamento
de ciganos, como se uma guerra (ou uma saudade)
começasse por minha causa
como se um mágico tirasse moedas de minha
boca e as esferográficas guardassem a velha
herança das navalhas ruins,
como se houvesse fios de alta-tensão
entre nossos corpos
eu que vivo o precário vaudeville dos instantes
que aprendi a dar cambalhotas
com os bobos
de shakespeare e os retardados
cujo bom-senso é o estopim da combustão
cujo reino é uma cratera
cuja coroa é o nariz
do palhaço, e o assassinato um ressuscitar-se
eu que sou, às 4:00 da manhã,
a única janela acesa que me intoxico de deus
que perdi a identidade, o ônibus, a graça
e os sisos e o bilhete premiado
e o fio de ariadne,
a lembrança do inferno e do paraíso
e volto para casa sangrando
como quem assobiasse
eu que faço parelhas aos afogados
que sempre quis ser o poeta de tróia
o poeta da boca-de-fumo, o poeta de porta-de-cadeia
o poeta dos obituários, o poeta oficial das alvoradas,
o poeta oficial da vila hauer
e que, ao fim, não sou poeta oficial
nem de mim mesmo
eu que toco trombone
dentro de uma piscina vazia
eu que tenho queimaduras de terceiro grau
por dentro que cato os rebotalhos da cultura materialista
e reciclo
do jeito que dá e não dá
e junco de esperança
todos os impedimentos
eu, exilado do país infinito
que manipulo venenos, que enlouqueço sozinho
um ser fronteiriço
entre azul e precipício
e subo a montanha
como um profeta que engoliu a língua
eu que escovo os dentes
com chuva e maçarico
eu, meu corpo
que tenho a espessura da vida
e o peso exato de minha morte
eu
coluna de fumaça
espelho quando mente
ferragem retorcida
rosto em branco, sem traços (como um edifício ou um anjo
transitório)
minha cara inconfundível
uma palavra
(r
el
âm
pa
g
o) que não acaba nunca
Rodrigo Madeira
quarta-feira, outubro 01, 2008
celeste em tarde nascer
o escondi e dele me alimentei
quando voltei para sugar
silêncioso, mais do teu calor
encontrei tua alma
com um sorriso sem dentes.
um estreito riacho sem pedras
preciosas
seus olhos, azulescência pura,
eram agora o fundo de um lago
sem o soul da sereia que dançava
em ti.sequestrei o sol da sua alma
agora escravo
vago condenado
assassino da tua luz.
Wilson Roberto Nogueira
O Guardião das Horas
eu enferrujo, por isso evito ventos fortes
lágrimas à toa.
Como da primeira vez.
Pareço feito de areia,
então escorreguei por entre seus dedos.
Mas foi a última vez.
Sou um bandido alado, impreciso,
roubo a substância do abstrato.
Me comunico em
panfletos colados nos postes, cartazes nos tapumes,
muros piccahdos, estampas de camiseta,
adesivo de carro.
Tenho apenas cincosentidos,
todos voltados para a contra-mão,
e mesmo assim reconheceria a sua voz até no inferno.
Eu viajei vezes e vezes por você
sempre um segundo atrasado
leve, leve, leve e esperei...
as 7 voltas nas muralhas de Jericó
os 3 dias pela ressureição
os cem anos de guerra e solidão
os nove meses no ventre da tua mãe
mas somente aprendi as leis do tempo
quando li as linhas da tua mão.
A poesia não espera pela inspiração
o amor não espera amadurecer
a dor não espera o perdão
a fome não espera a sede
a vida não espera o fim do expediente
o sol nunca espera pela lua
e eu não espero mais por você.
Luiz Belmiro Teixeira
Menção honrosa prêmio Helena kolody de Poesia 2007
quarta-feira, setembro 24, 2008
Nas beiras da banalidade
depois da tempestade
O galo galhofeiro cacarejou até ficar gago ,cantou a coroca Candoca-um galho feio que de susto ,pipocara ovo aflito .Que dormirá na frigideira.
Enquanto a nuvem fria ,parideira de tempestades ,postada como beldade ,esperava o galanteio da noite...
Na manhã seguinte o galo não cantou.
Contudo galinhas patos,gansos e pintinhos estavam livres,nem sinal de insumos das fábricas humanas os quais jaziam sob os escombros da Casagrande.
Wilson Roberto Nogueira
quarta-feira, setembro 17, 2008
sexta-feira, setembro 12, 2008
quinta-feira, setembro 11, 2008
Feras verazes
O útero gerador da rocha. o dogma soterrando almas enquanto cascalha hinos de louvor e salvação .Onde está o Verbo?não nas pálavras dos palácios construídos sobre os ossos dos cordeiros devorados.De toda verdade manifestada na fé dos poderosos sopradas ao vento apagaram o fogo da liberdade e do amor,restando os chacais do ódio ,o rancor e a fome devorando de doenças os escombros que se abandonam nas calçadas.
O sal da terra o tempêro mais forte da verdade espalhado sob os quatro cantos da escuridão hurram maldiçõesà beira do abismo enquanto chacais tomam sopas de ouro no palácio das luzes.
Wilson Roberto Nogueira
quarta-feira, setembro 10, 2008
quinta-feira, agosto 28, 2008
quarta-feira, agosto 27, 2008
pensa e logo esquece
Na lagoa de sangue
lágrimas de gente à toa.
A praça sangra na noite nua
quando desperta sonha que é uma vítima nua
Uma virgem no vitral da igreja apedrejada
Andrajos cobrem as almas na prece da praça
Em cada pedra um drama aliviado na lama
uma moeda mordida na vida sem guarida.
dorme e voa para longe acorda do sonho parida
de luz á brilhar na fonte na fronte da água
pensa o menino descalço sonhando em 'sê dotô'
água
água na praça é esperança de graça
a noite uma moeda por uma graça
na praça
uma praça...
Wilson Roberto Nogueira
sexta-feira, agosto 22, 2008
quarta-feira, agosto 20, 2008
neve negra
Das correntes de elos quais tentáculos de feras - pesadêlos de todas as eras, as guerras a fome e a miséria. Queima o clamor no pulmão, uma pluma de sonho no incêndio da razão, incêndio na Floresta Negra a expulsar lôbos em metálico desespero, a invadir aldeias, feras famintas ,almas perdidas na lama a perscrutar na treva a semente da luz.
Ferve no coração a chama ,chama negra borbulhando borboletas de fogo ,chama a voz do bater de asas de sêda da borboleta á queimar da seiva ácida no pulmão de ramos finos da selva da tua alma ,fumaça densa vela a tua cidadela em ruidosas ruínas no luto de tantas guerras.
Teus olhos crepitam fome de justiça diante da soberba miséria .
Voa alto o falcão com os olhos famintos pelo vale perdido dos sonhos órfãos.
Wilson Roberto Nogueira
terça-feira, agosto 19, 2008
Sombras da Paz
a fechadura do baú de ossos.
Sus-piram pesadêlos
a pensar no ato de atentar ,
de ator-doar ab utres.
Por um trís tropeçam segredos nos penha ascos.
Em baixo choram bosques denegras árvores
onde um dia sorriu uma aldeia.
Sonham os fantasmas com os parques;
rolam como bolas de football nos pés das crianças.
Uma gôta de sonho desperta no olar obliquo do gato preto,
única testemunha do Ceifeiro.
Wilson Roberto Nogueira
quarta-feira, agosto 13, 2008
quarta-feira, julho 30, 2008
terça-feira, julho 29, 2008
cadafalso
em cada falso falar
em cada olhar
que cala ao gritar
enquanto
no coração
estica a corda ao pescoço
de quem ouve com
as taças de cristal plenas de água pura.
a corda cortando e
abrindo sob os pés
o fosso do poço ao já cadáver
da amizade.
Wilson Roberto Nogueira
Baraticidio
e de sua fragrância
uma barata
sartreando surtos
de eloquência existencial,
mediocritava atrás de
doces
podres migalhas de
barnabé oculto nas opacas lentes
sob espessas antenas
- sombras lanceiras.
Caminhava a cambalear sonhos
-meio azêdos
na torturante travessia
do cimento escaldante
de sua ex-histérica existência.
Wilson Nogueira
quarta-feira, julho 23, 2008
vitelinho
Será oferta de algum alimento para esses panos de carne viva e sangrando deseranças? Um momento de alívio ao sofrimento tão banal ,que clama nas vísceras. Fome primal de viver... não de esperar a morte bater sem tanta dor e haja a "maldita" ou o pó do capeta. Que desdita...
Não, ela está lá, furtiva...vergonha por ser cristã caridosa? Alimentando mendigos...esses trapos imundos que a alta burguesia quer varrer para longe, construir muros, cobrar pedágio e até pagar para vê-los em outro zoológico de horrores.
Ela não, está alí, vêes ?
Não! Não é pão ou resto de comida. É um bebê recém-nascido.
Largou. Saiu. Em meio ao sangue chorava rubro mas fraquinho.
Uma cadela sem pedigree chegou, cheirou, lambeu limpando o sangue e, enrodilhada ao pacotinho humano, aqueceu-o uivando baixinho, até ser chutada e, quanto ao vitelinho, o mendigo levou para algum lugar...
Wilson Roberto Nogueira
fanatismo
débitos demandando dádivas debitando desejos
nas imagens projetadas jato de hedonia
a percorrer de lírios nas mal ditas preces ocultas?
Sem meditar, tiraniza em nome da liberdade
liberticida!
O teu totem tolo é a vaidade parida;
dilacerando continentes de Édens ocultos,
Cains caídos em desgraça,
vidas sobrepostas de almas, assassinas e vítimas
bebendo da víndima da religião,
partido da fé da exclusão,
da negação do Cristo ou de Alá,
vão semeando as campas
usando o nome dEle em vão.
Wilson Roberto Nogueira
quarta-feira, julho 16, 2008
terça-feira, julho 08, 2008
Materiais de Construção
de minha aldeia incendiada e do esqueleto de meu irmão,
um só grito, "Socorro ! "dentro dos búzios; e por fim, da
âncora de um barco naufragado, o ferro velho. Com isso
reconstruírei. "
Zakythinós
[De O pássaro mau, Tò Kakò Poulì ,1958 ]
Paes,José Paulo.in : Poesia Moderna da Grecia
quinta-feira, junho 26, 2008
Retrato de escritor
nas de furar a pedra ou nas langues;
nas águas lavadeiras; até nos alcoois
que dissolvem o desdém mais diamante.
Insolúvel: por muito o dissolvente;
igual, nas gotas de um pranto ao lado,
e nas águas do banho que o submerge,
em beatidude, e de que emerge ingasto.
Solúvel: em toda tinta de escrever,
o mais simples de seus dissolventes;
primeiramente, na da caneta tinteiro
com que ele se escreve dele , sempre
(manuscrito, até em carta se abranda,
em pedra-sabão, seu diamante primo);
Solúvel, mais: na da fita da máquina
onde mais tarde ele se passa a limpo
o que ele se escreveu da dor indonésia
lida no Rio, num telegrama do Egito
(dactiloscrito, já se acaramela muito
seu diamante em pessoa, pré-escrito ).
Solúvel, todo : na tinta, embora sólida,
da rotativa mandando seu auto-escrito
(impresso, e tanto em livro-cisterna
ou jornal-rio, seu diamante é líquido ).
João Cabral de Melo Neto
in. "Educação pela Pedra ".
sexta-feira, junho 20, 2008
Natureza
Alegria burbulhante
contagiante natureza de
amor gigante.
amostra trabalhosa de
engenho e arte delirante.
Amostra grátis de Paraíso Perdido
aqui caído.
Regalo divino ao homem decaído
que faz do precioso presente mero agente
intermediário entre sua ambição e presente
predatismo descabido.
Árvores sangrando
lançando
um lamento enquanto desabam.
Clareiras na mata metastase no pulmão verde.
extinção de saberes ainda por conhecer
Densa neblina de restos de vidas cegan o alvorecer
A idosa árvore testemunha o último massacre
não haverá mais o que lamentar não mais existirá
Riquezas e progresso ocultos sob o pó das matas.
Gafanhotos saltam de florestas em florestas devorando madeira
abrindo clarões aleijando a biodiversidade mas plantando cidades.
Armazenando capital e extendendo o lençol da monocultura.
Alimentando o gado que alimenta o mundo e trazem divisas
Por mais que dividam opiniões tem lá suas imediatas razões.
O bolso exige.
A visão de quem só vê uma árvore de cada vez não a floresta inteira.
Não haverá mais nada desta maneira.
Crescimento insustentável.
Wilson Roberto Nogueira
quinta-feira, junho 19, 2008
sexta-feira, junho 13, 2008
raízes de metal do fúzil
expressão da guerra
serenas sobre os corpos
dos guerreiros que repousam
à sombra das copas de seus capacetes.
as baionetas cantaram tanto e tão alto
que calaram num silêncio de mármore
baionetas que semearam bravas sementes
brotaram estéreis interesses
nos protegidos prateados palácios da paz.
voam vozes no vasto silêncio.
Wilson Roberto Nogueira
segunda-feira, junho 09, 2008
sexta-feira, maio 30, 2008
Dia de luz e poesia
| Dia de luz e poesia - por Izabel Rosa | |
Em alguns dias estou bege. É apenas um tom pastel e me colore inteira. Cor de lua, de claridade, de dia nublado. Cor de sentimento. Reveste também a poesia. Está em tudo e nem todos a percebem. Num desses momentos, descobri o poeta português Eugenio de Andrade e seus versos tocantes. Li, e reli. Bêbada de poesia, a alma descobriu-se calada, tocada, ferida. Ser flutuante busquei o grande Mário Quintana e seu cotidiano lírico. Na mesma janela, meu olhar se fez outro. O pássaro balança na calha, depois voa e equilibra o som no arame estendido. Treme o corpo inteiro no trinado longo. Entrega-se à música. Transforma-se em assobio e meu olhar o perde. Ganho um presente. A ave dirige-se à vidraça da casa vizinha e faz uma festa de canções e vôos curtos para a sua própria imagem. Às vezes simula um ataque. Toma distância e se aproxima veloz a fim de intimidar o adversário. Noutras o ritual é de acasalamento. Lânguido e lento, fica no parapeito mirando aquele ser tão familiar e tão inatingível. Penso em mim e na minha imagem. Às vezes ela é familiar, muito próxima e reflete meu ser inteiro. Mas, vê-la assim exposta deixa-me fragilizada. Assusta-me a sensibilidade às claras e acoberto as chagas. A postura é de ataque. Aliso as penas, alço vôo, mostro uma imagem como o mundo quer. Preparada para a batalha, disposta a usar todas as armas, vencer todas as lutas. Encontro uns olhos negros fitando-me atônitos. É meu cão. Parece querer desvendar meu silêncio. Por que estou triste se a vida é tão simples? Ah! os animais. Que sabem eles das angústias da alma humana? Que sabemos nós da sua placidez sem alma? Então surge um verso. Dorido. Dor de parto. Urgente, rasga a carne. Surpreende-me a imagem nascida. É tão inquieta a idéia. Moldada em ínfimo instante. Explode completa, resolvida. Não reconheço sua origem. Filha ilegítima, não a concebi. Brotou espontânea, como semente que o vento trouxe e germinou no vão da calçada. Emendo as tramas do pensamento. O pássaro, o canto, os olhos do animal. Nada define o início da rede que se tornou poesia. Ignoro o elo que se rompeu e a libertou do calabouço. É minha a dor resultante. Espasmos contraindo o rosto e salgando a boca com lágrima e silêncio. Olho-a enternecida, qual a mãe a afagar os cabelos da filha que agora é sua. É o primeiro carinho recebido por ela. Alinho os versos, substituo um verbo. Leio e releio. Não estou certa de sua beleza. Não me convenço de que esteja acabada e pronta. Descreio da verdade oriental de Gibran: “os filhos são flechas para o mundo”. Escondo-a na gaveta. Protejo-a das críticas dos sábios - metáforas demais. E da franqueza dos leigos - Poesia? Aguardo outro dia em que lua esteja bege. Talvez a revise e a salve da pecha de filha adotiva. Ou então, num matricídio convicto, a destinarei ao limbo. Verso morto na cesta de papéis.
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Wilson Roberto Nogueira
tropeça em suas próprias pegadas ,
se perde e perde-se nas sendas,
nas clareiras enganosas da floresta ,
a qual pensou transpor.
Segue intuindo o caminho na confiança cega de um rio;
mais uns metros dentro da escuridão seca,
secando a esperança de sair dali.
Dorme na madrugada eterna
nem um pio de coruja ou uivar de lobos,
nada além do silêncio.
Está morto,
o vazio onde ele permanece na escuridão.
Será o inferno ou ele estará no sonho de alguém,
estará ele sonhando ?
Caindo,caindo a queda sem fim,
escuridão,
onde estará,
um eco seco na garganta,
angustias,
uma súplica ao sorriso da sorte
de encontrar enfim o fundo,
o fim,
que seja agora
mas apenas a vertigem eterna dos condenados,
pesadelo,
qual é a saída,
e sair do que,
do vazio.
-Você já acordou com a sensação de se esta caindo?
fugindo do inferno de existir,
voando por cima de si olhando a carcaça apodrecer.
Wilson Roberto Nogueira
Kronos devora suas próprias sementes
Resgatando lembranças nas brasas acesas,
ocultas em cada pranto um lamento de lava,
lavando a alma,
marejando marés,
lacrimejando ácido ondulante em ondas de fogo,
liquido remorso morrendo em replay na memória.
Oração de murmúrios,
algaravia de dores,
cristais de pontas adamantinas no olhar vítreo.
Morto de tão vivo.
Saltando na nuvem o pensamento ,
vivendo éter eterno na mente,
eternamente na moldura de mármore da lembrança.
Sonhos pesando olhos carregados,
filmes mudos em slowmotion
que a argamassa desfaz,
a cada golpe ,
uma estocada no tijolo da finitude
A flor plantada na carne inerte ,
A carne des-mobiliada da alma.
Cada quadro ou livro,
baú ou arquivo
morto.
Pó etéreo vagando diluído em dezenas de páginas,
que a memória da vida escreveu.
Em cada palavra a imagem em carne e sonho.
Pesadelos são ausências lacunas,
des-conexão sem a eletricidade de músicas do passado,
sem explosões ou maremotos,
calor ou frio,
a dor da perda a morte real
acompanha a ausência do não compartilhado.
A memória é a fonte da vida eterna,
alma imorredoura,
argamassa vedando os tijolos sepulta
Na solidão apenas o esquecimento.
Esquecimento é suicídio,
É assassinato.
Quem lembra sempre não estará só de quem foi,
Sem jamais ter ido,
Lavando o rosto da memória na Lagoa.
Água do tempo que afoga no passado para fazer nascer
O presente.
Afoga no ventre o fogo de um novo renascer.
Wilson Roberto Nogueira.
sexta-feira, maio 09, 2008
com a fúria
Só o son sonado
dança com a tempestade
fúria sem idade
efêmera força do invisível.
Incrível velocidade
descabelando cidades.
Levando moedas nos olhos.
Sem mêdo dança a gaivota
à milhas e milhas de distância.
Quem avisou da visita da destruição?
Intuição?
Não
Deus assoviou assoviou
e a ave vôou vôou !
Wilson Roberto Nogueira
segunda-feira, maio 05, 2008
terça-feira, março 04, 2008
Férias famintas
tão faminto estava
que elas passaram
sobre mim e eu assim
nem estava em mim.
As férias tão feericas
passaram tão rápidas
as harpias na rapina
sobre a ravina
na mansidão bovina.
elas passarão eu passarinho
comida de gavião.
As férias passaram tão rápidas
que sequer senti a mordida
perdi o naco do braço
que ainda balança na memória
sequer senti a mordaz mordida
nem sonhei acordado com a Morgue
Quer saber sei que sequer senti
só a manifestação do sangue
e a dor da sua voraz insaciedade.
Wilson Roberto Nogueira